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José Roberto Torero

Chute ao alvo

Está aberta a temporada de caça ao Neymar. Permite-se usar chuteiras, joelhos e cotovelos

Diz o ditado: "Água mole em pedra dura tanto bate até fura". Mas, no futebol, o ditado poderia ser: "Zagueiro grosso em perna de craque tanto bate até fazer crec!". O crec, no caso, é uma onomatopeia para imitar o som do osso quebrando.

Pensei neste novo ditado ao ver a caça às canelas de Neymar no jogo contra o Juan Aurich. O santista chegou a dizer que o jogo parecia mais UFC que futebol. E não estava exagerando.

Por enquanto, Neymar saltita feito uma gazela e vai escapando dos pontapés. Mas até quando?

Quem tem mais de 40 anos deve lembrar de outro excelente ponta-esquerda (Neymar é um ponta-esquerda, Tostão?) chamado Zé Sérgio. Ele driblava para os dois lados, em espaços mínimos, e parecia impossível adivinhar o que ele iria fazer. Serginho Chulapa deve um bom tanto de seus 243 gols pelo São Paulo e alguns de seus 104 pelo Santos a Zé Sérgio. Pois Zé Sérgio foi tantas vezes ao chão que quebrou duas vezes o braço, em 81 e 82. Teve uma carreira excelente, mas ela poderia ter sido espetacular.

Já Zico teve uma carreira espetacular. Mas ela poderia ter sido ainda mais grandiosa se ele não tivesse sofrido uma entrada assassina de Márcio Nunes em 1985.

Zico e Zé Sérgio nunca mais foram os mesmos depois destes, digamos, acidentes.

Por outro lado, Pelé, Maradona, Romário nunca sofreram uma contusão tão terrível. E isso explica em parte seu sucesso. Não basta ser craque, é preciso ter sorte. Ou força. É que os três eram parrudos, tanto que, mesmo quando levavam faltas, quase não caíam.

Outro fator que os protegia é que eles sempre driblavam perto do gol, e aí o zagueiro pensa duas vezes antes de aplicar a rasteira.

Porém Neymar não é parrudo. E muitas vezes dribla longe da área.

Se um dia (toc, toc, toc) uma chuteira ceifadora acertá-lo de jeito, ele perderá milhões, e nós, torcedores, algo ainda mais importante: memórias.

Imagine quantas recordações felizes não perdemos com as contusões de nossos craques. A seleção de 1982 seria ainda mais sensacional com Zé Sérgio. E talvez fosse campeã. Quanto a Zico, se não recebesse aquela falta em 1985, poderia ter tido uma carreira ainda mais vitoriosa. E hoje talvez tivéssemos uma lembrança menos melancólica da Copa de 1986.

No Paulista do ano passado, Neymar sofreu uma média de 7,6 faltas por jogo. Ou seja, no ano, se ele fizer umas 70 partidas, sofrerá mais de 450 botinadas. Basta que uma delas seja certeira para que percamos muitas e boas futuras memórias.

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