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Minha história Bàbby, 31

Tombo Gigante

(...) Dou valor aos brasileiros que estão na NBA, porque não é fácil ficar jogando lá (...) Estou me preparando para abrir uma loja de roupas

DANIEL BRITO
ENVIADO ESPECIAL A FRANCA

RESUMO

O paranaense Rafael Araújo, o Bàbby, 31, foi escolhido em 2004 no draft (sorteio de novos talentos) da NBA pelo Toronto Raptors. O pivô de 2,11 m fechou contrato de US$ 6 milhões por três anos. Desde então, atuou na NBA, na China, na Rússia e no Brasil. Após série de fracassos, foi a um numerólogo e mudou a grafia do apelido e o número da camisa. Largou o esporte em 2011 e abrirá uma loja de roupas em Franca (SP).

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Quando fui viver nos Estados Unidos, em 2000, eu não sabia uma palavra de inglês. Um técnico do Western Arizona College assistiu a um vídeo meu e veio até o Brasil para me levar.

Agora posso contar o que aconteceu de fato: o treinador, Kelly Green, me deu US$ 400 para tirar o visto americano e arrumar a vida. Mas os treinadores não são autorizados a dar dinheiro para atletas que vão estudar lá.

O dinheiro me ajudou a pagar três meses atrasados de aluguel dos meus pais em Carapicuíba. Minha mãe vendia semijoias, meu pai se formou em direito, mas ficaram um tempo desempregados.

Fui para Yuma, uma cidade no meio do deserto. Estudava, jogava e trabalhava na sala de jogos, o que me rendia US$ 100 por semana.

Fui eleito o melhor da NJCAA, a segunda divisão do basquete universitário dos EUA. Um dia, eu estava na

faculdade e recebi uma convocação para integrar a seleção brasileira, que iria disputar o Mundial de 2002, em Indianápolis.

Foi uma surpresa para mim porque o Nenê [pivô, então no Denver Nuggets] não pôde atender à convocação, e fui chamado de última hora.

Após o jogo contra a Espanha, fiz um teste antidoping. Depois do fim do Mundial, recebi um comunicado de que estava suspenso e perguntando se eu queria contraprova.

Tomava um suplemento alimentar chamado Animal Stak, que continha androstenodiona [um tipo de esteroide anabolizante]. Fui suspenso das competições da Fiba [Federação Internacional de Basquete], mas os campeonatos universitários de lá não são regidos pela Fiba.

Pude continuar jogando. Mas fiquei mal, a imprensa só me deu porrada, eu não sabia onde enfiar a cara. Tive que me esquecer do Brasil e prometi a mim mesmo que daria a volta por cima.

Mudei de cidade e de faculdade. Fui para a BYU, em Utah, onde o Walter Roese, o mesmo treinador que enviou meu vídeo para o Western Arizona, trabalhava na comissão técnica da equipe.

Fui aconselhado a fazer pedagogia, que é um curso ao qual eu não precisava me dedicar tanto. Chegava às aulas todo suado, porque gostava de treinar de madrugada.

Entreguei os trabalhos antes do prazo e, dois meses antes do fim do curso, mudei para Los Angeles, para me dedicar ao draft [sorteio de novos talentos da NBA] de 2004.

Fiz treinos em 16 equipes. Estava cotado para estar entre o 14º e 29º no draft. Mas fui o oitavo escolhido, pelo Toronto Raptors. Quando coloquei o boné do time e posei para as fotos, veio na minha cabeça tudo pelo que passei até chegar àquele momento.

Fiz um contrato de US$ 6 milhões por três anos. A primeira coisa que fiz foi comprar uma casa para os meus pais em Alphaville, porque eles ainda moravam de aluguel, e paguei a faculdade do meu irmão, que é médico.

Em Toronto, fui o centro de uma briga política. Porque o dirigente que me escolheu no draft era brigado com o técnico Sam Mitchell [eleito técnico do ano da NBA em 2007].

O treinador me deixou 40 partidas sem jogar porque ele não me queria no time. Fui ao diretor e reclamei, mas ele foi mandado embora da equipe.

Na temporada seguinte, consegui ser envolvido em uma troca para o Utah Jazz, que era onde eu joguei na universidade, e eu gostava.

Mas o time já estava todo encaixado. O garrafão lá era Carlos Boozer, Andrei Kirilenko e Mehmet Okur. Quem conhece a NBA sabe que esses caras são de alto nível.

O técnico do time até me falou que eu cheguei na hora errada, porque já estava tudo encaixado. Quando me dispensaram do Utah, disseram que era 'business decision' [decisão financeira]. Não me esqueci mais da expressão.

Fui para o Spartak da Rússia, para receber metade do que ganhava na NBA. Só que lá só tem "pirulão" [jogador muito alto], e eu não tinha passaporte europeu.

Em 2008, fiquei três meses no Minnesota Timberwolves na pré-temporada, mas com a chegada do [pivô] Kevin Love não pude continuar.

Dou valor aos brasileiros que estão na NBA, porque não é fácil ficar jogando lá.

Ainda passei por um time de Xangai, mas não gostei.

Resolvi voltar para o Brasil. Joguei no Flamengo. Seguindo uma dica da minha mulher [Vivian], fui a um numerólogo, que não me lembro do nome. Estava precisando de algo para motivar minha vida mesmo.

Ele me falou para mudar a maneira como se escreve Baby para Bàbby. O número da minha camisa de jogo era 55 e ficou 66, para ficar ligado à comunicação com crianças. E meu autógrafo está inclinado para a frente, para chamar só as coisas boas.

Passei duas vezes pelo Flamengo, que ainda me deve dinheiro. Joguei no Paulistano e no Franca, já em 2011.

Mas estava desanimado e, junto com minha família, decidi parar. A mudança de nome está dando certo.

Agora estou me preparando para lançar uma loja de roupas de "fitness" aqui em Franca daqui a um mês e meio, vai se chamar B66.

Também sou sócio de uma academia na cidade. Quero lançar um livro com a minha história, para que sirva de exemplo. Acho que posso voltar a jogar basquete. Só espero uma proposta boa.

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