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No playground

Fofão revela que se irrita com seu novo hobby, o tênis, e que quer se despedir do vôlei em quadra

Gabo Morales/Folhapress
A levantadora Fofão na sua casa, em São Paulo
A levantadora Fofão na sua casa, em São Paulo

MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO

Os moradores do condomínio Clima Bothanico, na zona sul de São Paulo, são privilegiados. Afinal, eles têm à disposição para as peladas de vôlei uma das melhores levantadoras do mundo, campeã olímpica e em forma.

Fofão, 42, está desempregada há dez meses, desde que saiu do Fenerbahce da Turquia, disposta a voltar a atuar no Brasil. Para manter a forma, faz exercícios físicos todos os dias com a ajuda de um personal trainer.

Contato com o vôlei ela só tem nas clínicas que dá pelo Brasil e, esporadicamente, na quadra de seu condomínio. Seu novo desafio é o tênis.

Reconhecida pelo temperamento sereno nas quadras de vôlei, Fofão se transforma com a raquete na mão.

"É um esporte que me tira do sério", conta, aos risos. "O que o vôlei não fazia comigo o tênis faz. O professor me fala: 'Não pode xingar, falar palavrão'. É muito difícil. Eu tenho a visão, mas não consigo executar. Isso me deixa com raiva. É um desafio."

Fofão garante que se trata só de um hobby. O que ela quer mesmo é voltar ao vôlei.

Após defender a seleção por 17 anos, conquistar três medalhas olímpicas -além do ouro nos Jogos de Pequim-08, dois bronzes, em Atlanta-96 e em Sydney-00-, Fofão espera uma despedida digna do voleibol.

Ironicamente, o país para o qual Fofão trouxe o ouro olímpico não tem mercado para absorvê-la. Nem mesmo com a escassez de boas levantadoras no Brasil.

Um dos motivos apontados pela veterana é o sistema de ranking da Superliga, criado pela CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) para preservar o equilíbrio no torneio.

O sistema atribui pontos às jogadoras -entre um e sete- de acordo com sua capacidade técnica. Cada clube pode ter até três atletas de sete pontos. Entre as nove jogadoras com pontuação máxima, a única levantadora é Fofão.

Na mesma faixa etária e com status similar, Fernanda Venturini, que saiu da aposentadoria para defender o Rio, vale cinco. Com isso, pôde se encaixar num time que tem três atletas de sete pontos: Sheilla, Mari e Natália.

Insatisfeita com sua cotação, Fofão recorreu ao presidente da CBV, Ary Graça, mas continuará a ter sete pontos na próxima temporada.

"Se minha pontuação fosse mais baixa, talvez tivesse conseguido me encaixar em alguma equipe. Essa é a minha briga na CBV. Quero baixar", conta. "Não faz sentido eu ter sete pontos. Já passei dos 40 anos e estou afastada da seleção há muito tempo."

É fato que dois clubes de menor porte tentaram contratá-la no início da temporada. Fofão recusou por crer que ainda tem condições de integrar um time com pretensões de ganhar o título nacional.

Neste mês, surgiram boatos de que teria sido sondada pelo Campinas, que estaria montando um time feminino para a próxima temporada. Ela nega. Aposentadoria não está nos seus planos.

"Posso até parar, mas não desse jeito, sem estar dentro da quadra. Quero mais uma chance, nem que seja para disputar a última Superliga."

Enquanto aguarda um convite, tenta se imaginar em quadra na Superliga. A competição já está nas semifinais.

"De vez em quando me jogo dentro da TV", afirma. "Às vezes, me coloco no lugar da levantadora e fico imaginando o que ela poderia fazer em determinada situação. Dá vontade de estar ali."

Para grande parte das levantadoras em ação na Superliga, a veterana é uma referência. Para duas em especial, o nome Fofão paira quase como assombração.

Desde que ela se aposentou da seleção em 2008, suas substitutas têm sido alvo de comparação e de críticas.

Nem Dani Lins nem Fabíola, a provável dupla de levantadoras do Brasil em Londres-12, conseguiram se firmar como titular da equipe.

"O que me preocupa é que nenhuma delas se firmou, e isso é importante para criar segurança. Na Olimpíada, é uma pressão maior. Fico pensando em como elas vão reagir, qual delas vai ter mais coragem para assumir a posição", diz a veterana.

Fofão, no entanto, refuta qualquer hipótese de retornar à seleção. Não sabe nem se vai acompanhar o Brasil defendendo o título em Londres-12. "Não sei se vou conseguir assistir às partidas. No primeiro dia que o Brasil jogar na Olimpíada eu vou chorar com certeza. Ainda me sinto muito próxima delas."

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