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12X Brasil

Nova ordem

Grande oferta de emprego nas obras da Copa-14 dá poder de barganha a operários dos estádios, que ainda lidam com condições inadequadas de trabalho

BERNARDO ITRI
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA E PORTO ALEGRE
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE, RIO E SALVADOR
MARIANA BASTOS
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA, NATAL E RECIFE
RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA, CUIABÁ E MANAUS

"Tenho pavor de futebol. O meu esporte se chama trabalho", disse um operário da Arena Pernambuco, com macacão azul e capacete amarelo da Odebrecht em fevereiro.

O holerite na mão mostrava salário de R$ 897, mas, com descontos, a remuneração chegava a R$ 438 para exercer a carpintaria na obra.

No período em que a Folha visitou as obras, o estádio enfrentava uma greve. O trabalhador, que era integrante da comissão de operários, preferiu não se identificar para não comprometer as negociações com a empreiteira.

Mas não temia a demissão geral. "Se demitirem 2.000 trabalhadores, não vai ter Copa em Pernambuco porque ninguém vai querer trabalhar aqui nessas condições. A peãozada não perde nada porque tem mais obras por aí. Quem perde é a Odebrecht, que precisa cumprir prazos."

Ao fim da greve, o saldo foi de 72 demitidos e o comprometimento do cronograma de obras já apertado da arena. Nesta semana, o Comitê Organizador Local da Copa-14 anunciou que Recife corre sério risco de ficar fora da Copa das Confederações, em 2013.

Autoridades envolvidas com a Copa nas sedes reconhecem que a grande oferta de empregos por conta das obras de infraestrutura e construção civil que se espalham pelo país dá poder de barganha aos operários.

Com a união dos sindicatos, os trabalhadores das arenas da Copa criaram uma pauta conjunta, entregue aos governos federal e estaduais no início do mês, na qual pleiteiam a unificação salarial.

"O trabalhador do Itaquerão não pode ganhar mais do que o do Maracanã ou o de Recife, pois trabalham para a mesma empresa [Odebrecht], e o valor das obras não é tão diferente", declarou Edson Bernardes, vice-presidente da ICM, entidade que coordena a campanha Trabalho Decente na Copa.

O piso salarial no Itaquerão, um dos mais altos do país, é de R$ 968 e chega a R$ 1.150, incluindo hora extra. O trabalhador do Maracanã tem piso de R$ 961 (ajudante) e R$ 1.304 (profissional).

A Odebrecht não quis divulgar valores nas outras sedes de sua responsabilidade.

"Não dá para equiparar os salários. O custo de vida de São Paulo e Recife não é o mesmo", argumentou Marcos Lessa, funcionário da Odebrecht e responsável pelas obras na Arena Pernambuco.

MAUS-TRATOS

Além da questão salarial, outro ponto sensível das relações trabalhistas nas arenas é a condição de trabalho.

"No histórico das greves da das arenas da Copa, houve mais reivindicações relacionados à melhoria das condições de trabalho do que por questões salariais", declarou o integrante da ICM.

Em Manaus, a Andrade Gutierrez é alvo de investigação por parte do Ministério Público do Trabalho, pois operários da Arena Amazônia dizem sofrer assédio moral no canteiro de obras. Há denúncias de maus-tratos e de situações de constrangimento.

Na última semana, a obra enfrentou uma greve.

Segundo o procurador Jorsinei Dourado, as denúncias foram feitas por dezenas de trabalhadores, cujas identidades são mantidas em sigilo para evitar que fiquem expostos a demissões.

Em nota, a Andrade Gutierrez afirmou que "qualquer menção a maus-tratos e falta de segurança é totalmente infundada, uma vez que a empresa se pauta pelo respeito à dignidade do trabalhador".

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