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Rodrigo Bueno

A loucura real

O time que só aceita bascos se rende a um gringo maluco, e o melhor da América do Sul continua insano

A LOUCURA nunca esteve tão em alta. O técnico com mais destaque na Europa nesta temporada é um sul-americano maluco, o ousado Marcelo Bielsa. E, como se isso fosse pouco, no Chile e na Libertadores o legado abusado do "Loco" também faz muito sucesso.

A trajetória internacional de Bielsa teve seu primeiro grande pico há exatos 20 anos, quando ele levou o mediano Newell's Old Boys à final da Libertadores. Perdeu apenas nos pênaltis para o São Paulo de Telê após fazer uma campanha épica e com sua marca: levou goleada na estreia (0 a 6 ante o San Lorenzo), devolveu goleada ao rival (4 a 0) e armou um time quase imbatível (14 jogos invicto no torneio continental até aquele pênalti em Macedo no Morumbi).

De lá pra cá, nenhum técnico fez a seleção argentina jogar de forma tão solta e vistosa como ele. Só que o rotundo fracasso na Copa de 2002 fez com que muitos, especialmente em seu país, execrassem sua faceta excêntrica. No Chile, voltou a montar uma seleção atrativa, versátil, moderna, sem medo. Levou a equipe às oitavas do Mundial quando perdeu, de forma categórica, para o Brasil, talvez o maior algoz de sua carreira (talvez o que explique por que nunca um time brasileiro ousou ousar com o "Loco").

Veio então a recente experiência europeia. Um clube espanhol alternativo e com convicções fortes, o Athletic Bilbao, abriu as portas para esse Dom Quixote da prancheta. Obcecado com mínimos detalhes e envolto em histórias que apontam mesmo para uma loucura real, Bielsa conseguiu, entre outras coisas, eliminar o Manchester United, virtual campeão inglês (de novo, coisa de louco!). Um time que só aceita bascos no elenco arriscou sem temor num gringo que se descabela e se ajoelha na beira do gramado. E, fora de si (com mais leveza e desenvoltura do que de costume), o Bilbao pode conquistar uma insana Liga Europa.

Na América do Sul, apesar das mudanças frequentes no elenco, a Universidad de Chile continua deliciosamente sem pecado e sem juízo. Joga em casa e fora da mesma maneira, varia entre linha de três e quatro homens atrás, chega rápida com meia dúzia ou mais à frente. Ganhou tudo em 2011 e é uma das favoritas na Libertadores. Jorge Sampaoli é fã confesso e discípulo de Bielsa. Assim virou o "técnico de 2011" da revista "El Gráfico". "Louquinho", Sampaoli pode conseguir o título que escapou para o "Loco" há 20 anos. A "U" tem torcida inflamada, time, esquema, técnico e, acima de tudo, loucura.

rodrigo.bueno@grupofolha.com.br

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