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Corpo estranho

F-1 é feito para homem, diz 1ª piloto mulher desde 1992

Javier Soriano - 9.mar.12/France Presse
Maria de Villota, em entrevista já como integrante da Marussia
Maria de Villota, em entrevista já como integrante da Marussia

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A XANGAI

GP da Austrália, etapa de abertura da F-1. Fotógrafos vão de equipe em equipe para fazer fotos dos pilotos devidamente uniformizados. Na frente do escritório da Marussia, um deles vê a moça loira, vestida com a roupa da equipe, e logo pede uma bebida.

Educadamente, Maria de Villota indica a geladeira e entra para se trocar. Quando reaparece, de macacão e capacete nas mãos, o fotógrafo se assusta e pede desculpas.

"É normal, já estou acostumada", conta às gargalhadas a espanhola de 32 anos, piloto reserva da Marussia, primeira mulher inscrita para uma temporada da F-1 desde 1992, quando a italiana Giovanna Amati tentou, sem sucesso, se classificar para as três primeiras provas do ano.

"O começo sempre é mais complicado. As pessoas ficam muito surpresas. Claro que gostaria de ter mais mulheres no meu esporte para me sentir mais cômoda", completa Maria, que ontem teve seu desejo atendido e ganhou a companhia da escocesa Susie Wolff, anunciada pela Williams como piloto de desenvolvimento para 2012.

Filha de Emilio de Villota, que em 1977 disputou duas provas na categoria sem marcar pontos, Maria desde pequena soube que seu futuro estava nas pistas. Ao lado do irmão, também Emilio, começou nos karts e, aos 21 anos, estreou na F-3 espanhola.

Passou por várias categorias, como o Mundial de Turismo e a Euroseries 3000, até chegar à Superleague em 2009, onde ficou até 2011.

Em agosto, ganhou a chance de testar um F-1 com a Renault. "Foi uma experiência incrível", lembra. "É impressionante como o carro de F-1 é sensível. Isso é bom para as mulheres. Se você guia suavemente, o carro sente, não é como em outras categorias."

Mas, apesar disso, Maria diz que a F-1 ainda não está preparada para as mulheres. "Vai desde o banco e o tamanho dos pedais à grossura do volante e o cinto de segurança. Se um homem que calça 42 usa um pedal de um tamanho, eu que calço 37 tenho que fazer muito mais força do que ele", afirma a piloto, que já teve os dois dedões da mão operados, um deles por lesão causada pela força que tem de fazer ao segurar o volante.

"Fisicamente, não temos como competir com os homens, pois somos menos fortes mesmo. E ainda tenho que lutar contra estes obstáculos. Mas acredito que podemos estar num nível físico ótimo para compensar isso."

Por enquanto, Maria, que se inspira no compatriota Fernando Alonso, tem presença certa no teste para novatos em Abu Dhabi, no final deste ano. Enquanto isso, participa de reuniões e tenta passar o máximo de tempo possível com os engenheiros.

"Tento me enriquecer como posso. Às vezes, acordo e finjo que sou eu quem vou pilotar o carro. É uma maneira de me manter motivada enquanto a hora não chega."

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