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José Roberto Torero

O 1º. dos 11.793

Arnaldo Silveira fez 64 gols pelo Santos. Mas virou nome de rua por causa do primeiro deles

Surpreendentemente, quando cheguei Zé Cabala já estava pronto, sentado em posição de lótus e usando turbante e bata totalmente brancos.

-Adivinhou que eu vinha, mestre?

-Não, meu caro, apenas olhei o calendário. Sei que vocês, jornalistas, adoram uma efemeridizinha.

Mas a surpresa maior foi quando quis lhe pagar o costumeiro centenário de reais e ele disse:

-Hoje é por conta da casa. Mas não acostume.

Logo depois ele ligou seu iPod e começou a escutar um hino de clube que começa assim: "Sou alvinegro da Vila Belmiro...". Mal acabou a música, ele me estendeu a mão e falou:

-Arnaldo Patusca Silveira, muito prazer.

-Arnaldo Silveira?! Aquele que marcou o primeiro gol do Santos, aquele que foi um dos 39 fundadores, aquele que foi artilheiro do primeiro campeonato do time, o santista de 1913, aquele que foi o primeiro jogador do clube a jogar pela seleção?

-Você sabe bastante sobre mim.

-É que por estes dias só se fala na história do Santos. Aniversário de cem anos, sabe como é...

-Sei. Jornalistas adoram uma efeméride.

-O senhor é a segunda pessoa que me diz isso hoje. Conte como foi fazer aquele gol.

-Eu nem desconfiava que ele seria tão importante.

O curioso é que o gol só aconteceu cinco meses depois da fundação do clube. Foi um amistoso contra os ingleses do Santos Athletic Club. Ganhamos de 3 a 2. Eu tinha 18 anos.

-E o senhor lembra de algum outro gol inesquecível?

-Lembro de um não gol. Foi num jogo contra o Botafogo do Rio. Já estávamos vencendo por 6 a 1 e marcaram um pênalti a nosso favor. Mas chutei para fora de propósito. Os rapazes do Botafogo já haviam sofrido bastante.

-Pela seleção o senhor também teve sucesso?

-Sim. Estava no time de 1914, que ganhou o primeiro título internacional do nosso futebol, a Copa Roca, disputada contra a Argentina. E fui o capitão da seleção de 1919, que conquistou o nosso primeiro campeonato sul-americano.

-Então o senhor era bom mesmo.

-Não quero me gabar, mas o Arthur Friedenreich, numa entrevista de 1963, disse que fui o melhor ponta-esquerda que ele viu em todos os tempos.

-O senhor parou de jogar bem cedo, não é?

-Sim. Aos 27 anos. É que o pai de minha namorada não gostava que eu fosse jogador. Então tive que escolher entre o amor e o futebol. Escolhi o amor. O futebol é importante, mas não é o mais importante.

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