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Los gringos - Juan Pablo Varsky

Ano de inferno

Nesse contexto extraordinário, o time mais pressionado do mundo não pode jogar bem

O River Plate está vivendo seu ano de inferno. Sofre para completar cinco passes seguidos, quando atua no campo do adversário. Não joga bonito nem quando ganha. Mesmo assim, até agora não saiu da zona de acesso direto. Perdeu quatro das 28 partidas disputadas. Os números são claros.

Ainda assim, foram poucos os momentos em que ofereceu solidez, identidade e bom funcionamento. A equipe tem dependido de momentos de inspiração individual. As muitas mudanças de nomes e de esquema de jogo não criaram um time confiável, e, quanto a isso, a responsabilidade do técnico Matias Jesús Almeyda é intransferível.

Mas como jogar bem? "O contexto em que cada atleta expressa sua capacidade não é incorporado aos critérios usados para definir seu rendimento. Pressupomos que um jogador que tenha apresentado certo rendimento sob uma dada estrutura poderá repetir esse comportamento mesmo que as circunstâncias mudem. Não levamos em conta com quem ele vai se relacionar na nova situação."

Esse parágrafo do livro "El Modelo de Juego de FC Barcelona", de Oscar Cano Moreno, retrata conceitualmente o problema do River. O trauma do rebaixamento não foi o pior que poderia ter acontecido ao clube. A cada final de semana, ele vive o pesadelo de jogar a Série B do Argentino, e esse é um processo pior que a queda.

A cada jogo, o rival espera com a faca nos dentes, como se estivesse na final de um Mundial. Para o River, a vitória só traz alívio, a sensação de dever cumprido. Caso não vença, o efeito negativo se intensifica. O time só terá paz caso volte à primeira divisão. Nenhum grande sabe como se comportar nesse cenário desconhecido. Nem o presidente nem o técnico nem os jogadores nem a torcida. Nunca viveram essa situação.

A situação do River mostra a importância da psicologia para o alto rendimento. O time comprou problemas. No mercado de verão, contratou o craque Trezeguet. Mas sua ascensão provocou desequilíbrio no relacionamento com Cavenaghi e Chori Domínguez, líderes do time. Almeyda tentou pôr os três em campo, mas não se complementaram.

"Rotulamos os jogadores como se a inteligência individual não dependesse da coletiva, como se a conduta de cada qual não influenciasse as possibilidades dos demais", afirma o livro. É essa a situação do River, em seu ano de inferno. Nesse contexto extraordinário, o time mais pressionado do mundo não pode jogar bem.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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