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José Roberto Torero

Holanda, Amazonas

Ele teve chance de fazer arquitetura e engenharia, mas preferiu fazer o que mais gosta na vida

As histórias dos jogadores são comuns e únicas. Por exemplo: Antonio Carlos nasceu em 1983, no Jardim S. Pedro, perto de Guaianazes.

"Toda criança sonha em ser jogador de futebol, e quando você tem um talento a mais, as pessoas falam: 'Procura um lugar para jogar'."

Ele procurou e achou: o Corinthians. Aos 8 anos já era destaque do time. Ficou no Parque São Jorge até os 13, quando foi dispensado. Mas aos 14 estava na Portuguesa.

Ao completar 20 anos, recebeu duas propostas: ir para o Ituano ou para o Preussen, da quinta divisão alemã. Preferiu cruzar o Atlântico. Antonio Carlos ganhava apenas o suficiente para morar e se alimentar. E, quando viu que não tinha futuro por lá, decidiu voltar para o Brasil.

Em 2007 estava no Pelotas. No ano seguinte operou o joelho e teve que dar uma parada. Ossos do ofício. Depois de uma passagem pelo Sul-Mineiro, veio a melhor fase de sua vida: foi jogar no Slavia Sofia, time da primeira divisão búlgara. Ele ganhava tão bem (5 mil euros, somando os bichos) que pôde até levar a namorada.

Fez 12 jogos como titular. Mas rescindiram seu contrato quando mudou a lei do país e só permitiram 3 estrangeiros por clube. "Sempre preferem os atacantes."

Decidiu retomar os estudos. Fez o Enem e conseguiu bolsa total num curso de arquitetura. Estava indo bem, mas apareceu uma chance de ir para o Vietnã. E ele foi.

Não chegou a fazer um jogo oficial. O problema é que havia africanos lutando pela mesma vaga, e eles jogam quase de graça (mil dólares por mês). Além disso, "sempre preferem os atacantes".

Voltou para o Brasil. E daqui foi para a África do Sul. Mas seu empresário mandou dois jogadores da mesma posição. E o time nem queria meias, e sim um lateral. "Quando voltei da África, prestei Enem de novo e peguei engenharia. Mas tive que largar". O motivo foi um convite do Campo Mourão, do Paraná. De lá passou para o Samambaia, da segunda divisão do DF. Fez cinco gols e o chamaram para o Ceilândia, que estava com Dimba e Iranildo. Mas a diretoria brigou com o técnico que o trouxe e sobrou para Antonio Carlos.

Hoje ele está na Holanda. Ou melhor, no Holanda, time de Rio Preto da Erva, a 75 km de Manaus.

Antonio Carlos já passou por Europa, Ásia, África e está no Amazonas. Mas não se arrepende.

"Se soubesse tudo o que aconteceria, ainda seria jogador. Talvez mudasse algumas coisas. Não sairia da Portuguesa, não recusaria a ida pro Ituano. Mas sou feliz no que faço."

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