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Xico Sá

Os imperdoáveis

Todo homem já nasce bicorno. Da sua fêmea e do seu time. Mas só o goleiro paga essa conta

Amigo torcedor, amigo secador, a brava gente brasileira a tudo perdoa, no mínimo dá um desconto no velho carnê da cordialidade malaca. No mínimo posterga, aguarda a prescrição, aceita, acontece, fazer o quê, é do jogo, e continua a ciranda e as tenebrosas transações, nosso amor é Cachoeira, como no antigo e agora irônico hit do príncipe Ronnie Von, o mais elegante da tevê brasuca.

Nós só não perdoamos o goleiro. O resto pode pegar a senha de inimputável no guichê mais próximo, dependendo do rábula de grife da defesa. Privataria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor, está perdoado. O mensalão, assim como o chifre é uma coisa da nossa cabeça, não existe. Foi apenas uma abstração, sem lastro, que puseram no seu bolso. Segue o jogo, caro Milton Leite.

Passa o orégano, passa o ketchup, seu purista, quem disse que não posso melar como quiser a minha pizza?! Só não esquecemos as falhas dos jogadores. O gol perdido pelos Deivids da vida e, principalmente, o gol vazado pelos Júlios Césares (sic) dos nossos times do peito. Assim falou Barbosa, goleiro da Copa de 50, supostamente criminoso: algumas derrotas não prescrevem. "Never more." Matar leva a 30 anos de cadeia, no máximo. Uma bola traiçoeira que vai às redes causa prisão perpétua, mesmo o jogo sendo de 11 homens e muitos detalhes.

Todo goleiro já nasce como se fosse um Raskólnikov debaixo das traves. Sempre mirando a culpa que se aninha no fundo das redes. Só para o goleiro há uma inconveniência de haver nascido. Apenas duas coisas proíbo aqui em casa: que meus filhos joguem no gol ou sejam jornalistas/escritores. O resto pode. Dois enteados já se livraram destas maldições, gracias.

Tem perdão para tudo, menos para o "goalkeeper". Perdoa-me por me traíres. Perdoadíssimo. Um torcedor se sente mais traído por seu número 1 do que por sua mulher, seja ela a mais cruel das adúlteras, daquelas que amam à tarde, em horário do expediente. Todo homem já nasce naturalmente bicorno. Da sua fêmea e do seu time. Mas só o goleiro paga essa conta.

Em nome de Manga, campeão pernambucano sem levar um só gol pelo Sport, que a vida seja menos cruel para vocês todos que escolheram tal sina. Ontem foi o dia do goleiro, data do nascimento do craque que acabo de homenagear.

O maior que já vi, porém, foi Jagunço, do Íbis, que no gol do pior time do mundo fazia mais milagres do que santo Expedito. Perdão, são Marcos!

xico.folha@uol.com.br
@xicosa

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