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Clube de presos e guardas sai da cadeia para jogar torneio

DE SÃO PAULO

Em 23 de janeiro de 2011, uma grande operação policial tomou as ruas da pequena cidade argentina de Campana para garantir que o time local pudesse jogar.

Cerca de 40 homens foram chamados para escoltar os jogadores da penitenciária municipal até o campo de jogo.

Formado por 12 presos e quatro carcereiros do presídio local, o Pioneros faria sua estreia em um torneio da federação argentina de futebol.

Mesmo com autorização da Justiça para deixar o cárcere, os presidiários tinham sobre si a suspeita de que fugiriam durante a viagem até La Plata, casa do rival da tarde.

Policiais armados seguiram de perto o ônibus do time e não descolaram dos jogadores nem na intimidade do vestiário. Durante o jogo, franco-atiradores se posicionaram entre a torcida vigiando movimentos suspeitos.

Mas nada inesperado ocorreu, a não ser a derrota do time da cadeia por 7 a 1.

"Encontramos um nível técnico maior do que estávamos acostumados", diz Miguel González, diretor da prisão e treinador da equipe.

O Pioneros havia sido campeão da liga de Campana, o que lhe deu a vaga naquele torneio, da quinta divisão, contra times de todo o país.

O clube surgiu há três anos como um projeto para ressocializar os detentos, muitos deles condenados por roubo, furto ou sequestro. Eles treinam e mandam a maioria de seus jogos em um campo dentro do presídio. Em partidas maiores, a direção da cadeia aluga outro fora dos muros.

No começo, presos e guardas jogavam em times diferentes. Até que eles viram que a divisão não fazia sentido.

"O futebol é paixão igual de todos, detentos, homens livres, argentinos, brasileiros", diz Gonzáles. "No começo, estranharam, mas guardas e presos perceberam que o futebol os tornava iguais."

Com o tempo, o Pioneros passou a aceitar também homens livres de fora da prisão.

No elenco atual, há dez jogadores recrutados nos campos de várzea da cidade.

E há Mario Manteca, um atleta profissional que foi preso e mandado a outra cadeia da região. Aguardou meses para ser transferido a Campana e jogar no Pioneros. Agora, mesmo após cumprir sua pena, continua no time que disputa a liga local e sonha retomar a carreira no futebol.

"Eles erraram e estão mostrando à sociedade que podem mudar. Nossa missão é permitir isso", afirma o diretor Gonzáles. "Depois do Pioneros, a reincidência no crime caiu muito. Quando eles saem daqui, querem buscar outra vida." (ADRIANO WILKSON)

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