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Quero ser grande

Estaduais sub-11 e sub-13 acontecem em campos para profissionais, o que prejudica a formação

GUILHERME YOSHIDA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Força neste chute, meu filho! Solta esta perna", grita um pai da arquibancada, preocupado com um zagueiro da categoria sub-11 do Santo André que não consegue fazer a bola passar a intermediária do campo de defesa quando cobra um tiro de meta.

O jogo foi contra o Juventus e aconteceu no estádio Pedro Benedetti, em Mauá, com medidas de 100 m de comprimento por 70 m de largura, dentro dos padrões oficiais.

No entanto, nem o pai nem a Federação Paulista de Futebol levam esse detalhe em consideração na hora de organizar torneios para categorias de base. A alegação é a falta de campos adaptados.

Por isso, jogos das categorias sub-11 e sub-13 do Paulista têm sido realizados em gramados com dimensões para profissionais. Há adaptações, como o tempo de partida (dois tempos de 20 minutos), mas insuficientes para ajudar na formação dos jovens.

Campos assim podem gerar um desequilíbrio no desenvolvimento cognitivo, técnico e físico dos pré-adolescentes, de acordo com profissionais que atuam na base.

Para eles, partidas dessa faixa etária deveriam ocorrer em espaços menores (quadras de futsal ou society) e com menos participantes. Permitiriam aos praticantes ter mais contato com a bola e uma maior relação com os gols, fatores valiosos para esses momentos de evolução.

"Com quase 20% a menos de altura, em média, os jovens têm de cobrir distâncias que um profissional cobre. Eles não conseguem gerar a mesma força de um adulto porque não têm a musculatura toda desenvolvida. Desse jeito, o jogo perde o seu sentido", diz Leandro Zago, técnico do Corinthians sub-13.

Um campo oficial, para a Fifa, tem de 100 m a 110 m de comprimento e de 64 m a 75 m de largura. E os torneios da base estão sendo disputados em campos profissionais.

O time do Parque São Jorge, por exemplo, manda seus jogos no mesmo estádio que o Flamengo de Guarulhos disputou a última Série A-3. Já Juventus e Marília recebem os visitantes, respectivamente, na rua Javari e no Bento de Abreu, locais que já foram da elite do futebol paulista.

Clubes como Portuguesa e Santos optam por atuar como mandantes nos seus respectivos CTs, que também têm dimensões oficiais. "Correr nesses grandes espaços gera um desgaste físico muito maior para a idade", acrescenta Bruno Praglioli, treinador do Juventus sub-11.

Segundo a Topper, fornecedora oficial do Paulista, as bolas usadas para garotos e profissionais também são similares. A variação pode chegar a 20 gramas no peso e dois centímetros na dimensão.

O cenário adulto das partidas fica pior para os jovens goleiros. À frente de uma meta com 7,32 m entre as traves e 2,44 m de altura, os pequenos arqueiros não alcançam as bolas chutadas no alto.

"Qualquer bola que for para o gol tem grande chance de entrar. Então, o jogo passa a ser chutar ou cruzar para a área e isso não é aprender a jogar futebol. É uma enganação para as crianças e pais", alerta Alcides Scaglia, mestre em pedagogia do esporte e docente da Unicamp.

Os garotos confirmam a dificuldade encontrada nos gramados da competição. "Acho muito grande o gol", afirma Cauã Godoy, 10 anos e 1,58 m, goleiro do Juventus.

"Gosto de chutar no canto porque o goleiro nunca chega", diz Riquelme dos Santos, 10, meia da Portuguesa.

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