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Tipo exportação Convênio leva quase metade das atletas da seleção feminina de handebol, que busca pódio em Londres, a atuar em time da Áustria
DE SÃO PAULO Quando a central Ana Paula corta para a meia esquerda, a ponta-direita Alexandra já sabe que pode saltar para dentro da área para receber a bola pelo alto e concluir para o gol. É como se fosse uma "ponte aérea" no basquete. A jogada, executada com frequência pela seleção brasileira feminina de handebol, é treinada bem longe de terras nacionais. É na Áustria que as duas praticam, à exaustão, esse lance. Oito das 18 jogadores pré-convocadas para o time que lutará por medalha na Olimpíada de Londres atuam no Hypo, time austríaco. Não é à toa. Por conta de uma parceria com a Confederação Brasileira de Handebol, o clube se tornou espécie de filial da seleção. Pelo acordo, o time nacional usa o Hypo como base europeia para treinos e incentiva a presença de atletas brasileiras no clube. Também há interação entre as comissões técnicas das duas equipes. Até o treinador do Brasil, o dinamarquês Morten Soubak, tem a liberdade para passar treinamentos específicos para as atletas praticarem na Áustria. E conversa constantemente com o técnico Andras Nemeth, húngaro que comanda o Hypo. "Falamos sobre cada jogadora, seu posicionamento. Ele me conta o que está fazendo nos treinos. E passo treinos extras para elas fazerem por lá", declarou Morten. O dinamarquês também aconselha as brasileiras a se transferirem para o Hypo. A-pós Londres, a armadora-direita Deonise deixará o Itxaco, da Espanha, para jogar na Áustria. Só duas atletas da seleção jogam no Brasil. "Ele [Morten] falou do projeto e pesou a crise na Espanha", disse Deonise. "Agora, vamos ter todo o lado direito da seleção no time [inclui Ana Paula e Alexandra]. Isso ajuda a jogar junto", afirmou. A armadora chegará ao clube com mais três brasileiras: Carol, Fabiana Diniz, a Dara, e Mayara. Por outro lado, outras quatro atletas, Samira, Francine e Silvia Helena e Daniela -que passou dez anos na Áustria-, sairão do time após a Olimpíada. A negociação com cada jogadora é individual -em geral, estão na média salarial de alto nível do handebol na Europa. E têm direito a casa e carro. "Dá para viver e juntar um pouco", disse a armadora-direita Silvia Helena. A confederação paga ao Hypo uma quantia referente ao uso das instalações do clube austríaco e pela parceria técnica, mas não revela o valor do acordo. Assinado no ano passado, o convênio foi renovado até o próximo ano. "A ideia é ampliar mais a participação de atletas brasileiras. Por mim, a seleção inteira jogava lá. Vamos levar essa parceria pelo menos até a Rio-2016", afirmou o presidente da CBH, Manoel Oliveira, que desistiu em 2011 de projeto de repatriar atletas. O Hypo leva o nome de um dos maiores bancos da Áustria, nacionalizado durante a crise europeia. Sua sede fica na cidade de Maria Enderdorf, nos subúrbios de Viena. A vida na Áustria, segundo as atletas, é regrada, com treinos em dois períodos. "Nunca treinei tanto na minha vida. É difícil a vida por lá", declarou Silvia Helena, que vai jogar na França. Para sair da rotina, as jogadoras fazem raras visitas a Viena, onde buscam as comunidades brasileiras, com direito a shows de pagode do marido de Ana Paula. O frio e a língua também são reclamações. Mas o entrosamento compensa. "A gente convive tanto no clube que ninguém aguenta ver a outra quando sai dos treinos. Só em aniversário e Natal", declarou Alexandra, há oito anos no Hypo. Por isso, ela e Ana Paula se entendem tão bem. "Só de olhar para a Alexandra, uma já sabe o que a outra vai fazer na próxima jogada", disse Ana Paula. É assim que sai a "ponte aérea" na seleção. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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