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Da América

Em um Pacaembu eufórico, Corinthians encerra azares e conquista a Taça Libertadores, o grande troféu que lhe faltava

Corinthians 2
Emerson, aos 9min e aos 27min do 2º tempo
Boca Juniors 0

LUCAS REIS
DE SÃO PAULO

Quarta-feira, 4 de julho de 2012, às 23h53, milhões de azares e feitiços se acabaram mais uma vez, como em uma certa noite paulistana de 1977.

O Corinthians, desde ontem e para sempre, é campeão da Libertadores.

E a cidade, ou sua parcela corintiana, levantou-se e correu às ruas para extravasar a conquista do título mais sofrido e aguardado de sua história, vencido de maneira inquestionável e invicta, botando na roda o clube mais temido de toda a América.

A equipe de Tite derrotou o Boca Juniors no Pacaembu lotado de corintianos e tomado por felicidade compulsiva e êxtase. Os 2 a 0, somados ao empate em Buenos Aires, deram a taça inédita ao clube.

O mau-olhado que atormentava o sonho continental foi enterrado por Emerson, o mais decisivo jogador de um time em que não há um, mas vários capitães e líderes.

Vieram do rápido atacante os dois gols que fizeram o corintiano feliz feito um Basílio, que salvou o clube do jejum de décadas há 35 anos -o mesmo 1977 em que começou a caminhada da equipe na competição continental.

Dois gols que traduzem o estilo de futebol de Tite: marcação e apetite pela bola.

No primeiro, Danilo disputou, e ela sobrou para Emerson, que encheu o pé, sem chance para qualquer azar, já aos 9min do segundo tempo.

No estádio, 40.186 pessoas viram a história começar a acontecer. O Corinthians estava a 34 minutos do céu.

Aos 27min, Emerson obedeceu a Tite, apertou a marcação, roubou a bola, tocou rasteiro e fez o segundo. A angústia estava perto do fim.

Às 23h53, o Corinthians ouviu o último apito daqueles tempos em que ainda não conhecia o doce sabor da América. E, desde aquela hora, a cidade não dormiu mais.

Nenhuma palavra pode explicar o que se viu nas arquibancadas. Alívio e euforia, gritos, choros e orações, abraços e histeria coletiva.

Tite ouviu o estádio todo entoar seu nome em agradecimento por ter acabado com anos de deboches dos rivais.

Coube a Alessandro a faixa de líder na final. Já se passavam 18 minutos de hoje quando o lateral ergueu o troféu que representa os libertadores da América, premiação por uma campanha impecável, com oito vitórias, seis empates e quatro gols sofridos.

Todos os jogadores, Sócrates e até Ayrton Senna foram lembrados pela torcida, que celebrou seu esquadrão em que não há estrelas e salários exorbitantes, comandado por um treinador obstinado.

Pela primeira vez desde 1978, alguém leva a taça invicto. Pela primeira vez desde o Santos de Pelé, um time brasileiro alcança o feito.

O Boca, hexacampeão, foi o último oponente de uma escala de 86 partidas em dez participações. Riquelme, a última esperança de quem torcia pelo Boca, pouco fez.

Sem Pelé em campo, pela primeira vez o Boca perde uma decisão para o Brasil.

Bandeiras do Japão surgiram por todos os lados, enquanto os campeões davam a volta olímpica com a taça mais querida pelos brasileiros. Em dezembro, o Corinthians disputará o Mundial de Clubes. Tentará o bicampeonato, já que ganhou em 2000, no Rio de Janeiro.

Mas disseram que, para conquistar o mundo, é preciso atravessá-lo. Pois bem, o Corinthians vai à Ásia representar a América como um honorável representante.

"O fim de todos os azares", estampou a Folha no título estadual de 1977, contando como Basílio enterrou os milhões de azares e feitiços do jejum de duas décadas.

Na mesma página, o lendário Vicente Matheus prometia um estádio próprio. A obra termina ano que vem. Talvez, o fim do último azar.

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