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Xico Sá

Nelson na escola

Seria uma forma de civilizar a nossa maneira de ver o futebol e o drama da vida sem a bola

Amigo torcedor, amigo secador, fosse eu ministro da Educação, colocaria, no currículo escolar, uma nova disciplina: Nelson Rodrigues.

Esses moços, pobres moços, estudariam, diariamente, esse gênio. Como quem estuda português ou matemática.

Não como disciplina facultativa, mas como aula obrigatória, sob pena de ajoelhar no milho o aluno desatento. Sob pena de bolos de palmatória, como a minha brava e importante professora Heroína, aos desobedientes. Nelson Rodrigues como o ensino de religião em um estado dito laico.

Seria a salvação da pátria. Seria uma forma de civilizar nossa maneira de ver o futebol e o drama da vida sem a bola. Seria um reforço na imaginação e um gol contra os idiotas da objetividade. Sim, tio Nelson, os idiotas da objetividade triunfaram. Não há sequer mais um mistério no planeta. Eles responderam a tudo. Mesmo antes de Higgs descobrir a "partícula de Deus", eles decifraram o Bóson ludopédico.

Bem lembrado, meu rapaz, temos o Tostão para nos dizer, como no título do seu grande livro, que a perfeição não existe. O grande elemento-surpresa, diria um amante dos chavões esportivos, o mineiro Eduardo Gonçalves de Andrade. Craque da crônica. Nosso Rubem Braga do futebol. Em vez do sabiá, tema permanente do escritor capixaba, o lirismo da bola.

Aliás, amigo, repare como a medicina fez bem ao esporte brasileiro. Mira a trinca de doutores: Afonsinho, Tostão e Sócrates. Jogam no meu time dos sonhos.

Disciplina Nelson Rodrigues. Do ensino básico à faculdade. O homem que inventou a classe C bem antes de Lula. O mundo talvez seja apenas Pernambuco e ainda não tenha sido avisado. Aquela velha história: do encontro do Capibaribe com o Beberibe nasceu o Oceano Atlântico.

N.R. para todos, inclusive na boca da madre

superiora do Colégio das Damas, no Recife, onde amei a professora Isa sob o olhar piedoso e resignado de Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado.

O meu coordenador em todo país da nova disciplina seria o colega de ofício Ruy Castro, autor de "Anjo Pornográfico" e o "Vermelho e o Negro", o Stendhal da Gávea.

Tio Nelson era Flu doente, mas isso não o impedia de reconhecer, de longe, um torcedor do Flamengo. Aquele que não sabe fazer nada sem amor. Exerce a sua paixão até para beber um copo d'água. Papai Joel Santana que o diga.

@xicosa

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