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Edgard Alves

As lições de Iziane

Atleta admitiu que errou e foi cortada, mas tem potencial e ainda poderá ajudar o Brasil em 2016

NA VÉSPERA da Olimpíada, o desligamento da ala Iziane, 30, da seleção feminina de basquete, por conduta inadequada, foi uma decisão de muita coragem do comando da delegação.

A atleta, que admitiu ter falhado -levou o namorado para dormir no quarto dela, contrariando as normas, em hotel na França, onde o time estava alojado-, também foi corajosa e enfrentou a constrangedora situação. Teve o bom-senso de admitir que sua falha prejudicava não apenas ela, mas toda a seleção.

Apelou, sem sucesso, para uma nova chance. Deveria ser atendida, porque aprendeu a lição e deu lição ao reconhecer o erro publicamente. Sem chance de inscrever uma substituta, pois o prazo expirou, o Brasil fica com uma jogadora a menos. Pior, sem Iziane, que era a mais experiente do grupo. O time estreia no sábado ante a França.

Como a seleção ainda não estava na Vila Olímpica, o superintendente de esportes do COB, Marcus Vinicius Freire, disse que a decisão, que era da alçada da confederação de basquete, foi acatada pela entidade. E deu a entender que às vezes é melhor perder um dedo do que a mão, ou seja, sofrer um desfalque desde que se mantenha a disciplina.

A situação de Iziane nos remete a outra, também olímpica, só que na contramão: em vez de trazer alguém para dentro do quarto, o atleta saiu dele, mais precisamente da Vila Olímpica, para pernoitar fora.

Aconteceu em Los Angeles-1984, envolvendo o velocista Róbson Caetano, que foi afastado da delegação. Posteriormente, ele chegou a declarar que queriam destruí-lo, mas que tiveram de engoli-lo.

Isto porque o jovem decidiu responder àquela situação com trabalho, intensificando os treinos, e, em Seul-1988, conquistou o bronze nos 200 m rasos, atrás dos americanos Joseph DeLoach e Carl Lewis, mas à frente do favorito britânico Linford Christie, todos com prestígio incontestável.

Caetano ganharia ainda o bronze com o 4 x 100 m do Brasil em Atlanta-1996. Atualmente, ele é comentarista na TV.

Iziane é o que podemos chamar de "atleta difícil". Esta é a sua segunda chance desperdiçada de participar de uma Olimpíada. Ficou fora de Pequim depois de se recusar a entrar em quadra no final de um jogo, inconformada por estar no banco de reservas.

A história de Róbson pode servir de consolo para Iziane. Apesar da idade, ela tem potencial, e, quem sabe, ajudará o Brasil no Rio, em 2016. Uma oportunidade para repetir Róbson, e Zagallo na Copa América, vencida pelo Brasil: "vão ter de me engolir".

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