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Antonio Prata

antonioprata.folha@uol.com.br

Volta às origens

Tiro com arco pode ficar bem mais ágil e emocionante com pequena alteração nas regras

Passei a manhã de ontem no Lord's Cricket Ground, assistindo à prova masculina de tiro com arco. Tentei me lembrar de domingos chuvosos na praia, de aulas de química no colegial, de algum filme mudo experimental do Uzbequistão, mas não encontrei em meus arquivos registro de duas horas em que tivesse me sentido tão brutalmente entediado.

Os arqueiros atiram e acertam. Atiram e acertam. Atiram e acertam. É como ouvir uma infinita conversa telefônica em que os dois lados só concordam: "É mesmo?" "É." "Não diga!" "Digo." "Então é isso?" "É isso." "Que coisa!" "Pra você ver...."

Estou aqui pela Folha, mas, antes, estou aqui como brasileiro -e é dever de cada patrício vivenciar esta Olimpíada com um olho em Londres e outro no Rio. O que funciona? O que não funciona? O que deve ser importado? O que tem que ser melhorado?

O tiro com arco tem que ser melhorado. Basta, na verdade, uma pequena mudança nas regras para termos um tremendo ganho em agilidade e emoção: basta que, em vez de mirar nos alvos, os arqueiros mirem uns nos outros.

Ora, por acaso os boxeadores ficam esmurrando sacos de areia, paralelamente? Os lutadores de tae-kwondo quebram tijolos ou barras de gelo? Os esgrimistas lançam maçãs para o alto e, com espadadas frenéticas, as fatiam em mínimas rodelas -posteriormente contadas e medidas pelos juízes? Não, queridão, eles se en-fren-tam.

Falei em maçã, lembrei do Guilherme Tell. Se, em vez de colocarem a fruta sobre a cabeça de seu filho, a tivessem posto em cima de um alvo, alguém ainda se recordaria da lenda? Não. O coração deste esporte está no perigo: e que perigo há em fazer furinhos em círculos concêntricos?

Vou além. Já que vamos trocar um disjuntor, aproveitemos para dar uma geral na velha instalação elétrica: peguemos todos os esportes mais claramente oriundos da guerra, como o tiro, o arremesso de peso, o lançamento de dardo, de martelo e de disco e os devolvamos às suas origens: en-fren-ta-men-to! O que é mais interessante: ver quem joga o martelo mais longe ou quem acerta a cabeça do oponente, a 80 metros de distância?

Para terminar, sugiro substituir o pentatlo moderno (curioso x-tudo olímpico, que mistura natação, hipismo, esgrima, corrida e tiro) pelo hexatlo arcaico: um Ultimate Fighting com os vencedores das modalidades supracitadas. Quem sobreviver ganha. Vai dar ibope, gerar publicidade, e, com apenas um esportista chegando ao pódio, ainda economizamos uma medalha de prata e uma de bronze -detalhe nada desprezível frente aos recentes dados sobre o PIB e às constantes marolas da crise internacional. Fica aí a sugestão.

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