Além do alcance

O primeiro recorde mundial dos Jogos de Londres foi quebrado por um atleta com deficiência visual. E em um esporte que exige dos competidores olhos bem apurados.

Mesmo sem enxergar com clareza, o sul-coreano Im Dong-hyun, 26, fez 699 pontos na prova classificatória do tiro com arco, ontem, e é o favorito para levar o ouro.

Além da excelente pontaria, o sul-coreano chama a atenção por ter apenas 20/100 da visão no olho direito e 20/200 do esquerdo, o que a federação do seu país define como clinicamente cego.

Segundo as regras da modalidade na Olimpíada londrina, os arqueiros dispararam 72 flechas em direção ao alvo instalado distante 70 metros. Ou seja, o máximo de pontos em jogo era 720.

"Ele é um fenômeno. É o atleta mais técnico que conheço", afirmou o espanhol Elias Cuesta, um dos seus rivais, que terminou a prova de ontem na 41ª colocação.

Dong-hyun tem problemas para enxergar tanto de longe quanto de perto, mas diz distinguir as diferentes cores do alvo (amarelo, vermelho, azul, preto e branco).

Porém não consegue ler uma revista ou dirigir um carro. Apesar da deficiência, o atleta não quer ser submetido a uma operação para corrigir a sua visão ou usar lentes durante as provas.

Os adversários dizem que a volta da visão poderia mexer com o lado psicológico do sul-coreano no esporte.

"Essa deficiência não o atrapalha muito. Ele compensa a dificuldade de enxergar o alvo e se concentra mais na parte técnica. Ele coloca nos seus tiros uma dose certa de respiração, velocidade e força. Esse pode ser o seu segredo", acredita Cuesta. O espanhol terminou o dia 39 pontos atrás do recordista.

Durante a prova, o sul-coreano não demonstra dificuldade de visão. No grande gramado do Lord's Cricket Ground, ele caminhava sem dificuldade e conversava com os seus companheiros sem problemas.

Só ao deixar a área de competição precisou ser amparado por um compatriota.

Duas vezes campeão olímpico por equipe (Atenas-2004 e Pequim-2008), Dong-hyun já era dono do recorde mundial. Em maio, ele conquistou 696 pontos na Turquia.

"O recorde já era esperado, mas sempre é bom confirmar o resultado", afirmou o técnico da Coreia do Sul, Seon Tek, tentando minimizar o feito do seu comandado. Ele disse que não gosta muito de falar da deficiência do atleta.

Os atletas do país são os melhores do mundo no tiro com arco. Eles ficaram nas três primeiras posições.

Único brasileiro na prova, Daniel Xavier terminou a etapa classificatória na 51ª colocação, com 653 pontos.

Na fase final, a regra muda. Os arqueiros decidem a classificação para a etapa seguinte em desafios diretos. Cada um terá três flechas e 20 segundos para lançá-las.