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Antonio Prata

antonio.prata.folha@uol.com.br

Phelps, where?

Ver uma Olimpíada de perto é incrível. Só é difícil entender o que está econtecendo

Sábado os jogos começaram oficialmente e, diante do mar de competições simultâneas, resolvi fazer meu début pela ginástica artística. Parecia-me uma opção acertadamente conservadora: assim como o sujeito que vai à Paris quer ver logo a torre Eiffel, assistir àqueles caras rodopiando em barras e argolas seria ideal para me botar no clima olímpico. Ledo engano. Saí da deslumbrante Arena North Greenwich mais confuso do que qualquer outra coisa.

Posso estar errado, mas a minha primeira impressão é que Olimpíada é como pizzaria de bairro, um negócio mais voltado pro delivery do que pro salão. Enquanto você aí, diante da TV, no conforto do seu lar, ouvia algum especialista dizer que "a reversão lateral invertida é um dos movimentos mais difíceis nas barras paralelas" e já arriscava comentários como "o spinning de calcanhar desse ucraniano tá bem mais ou menos, não, amor?", eu forçava a vista e me perguntava "será que esse baixinho no cavalo é o Diego Hypólito?", "peraí, o de verde é brasileiro ou australiano?!".

A organização sabe que o público não está familiarizado com muitas das modalidades aqui disputadas -pelo menos, não ao vivo. Por isso há a tentativa de aproximar ao máximo a experiência in loco da experiência televisiva. Quando os ginastas entram, toca uma música bem Rocky Balboa, e uma trilha sonora de ação ou suspense surge em vários momentos, ajudando a criar tensão nos espectadores.

Durante a prova, uma narradora explica pelos autofalantes o que está acontecendo, mas como tudo é disputado ao mesmo tempo -argolas, solo, barra, barras paralelas e salto- nem sempre o esportista de quem ela está falando é aquele para quem o pessoal está olhando. Às vezes ela diz "veja como o italiano inicia bem seu movimento de solo", e todos estão aplaudindo entusiasticamente a aterrissagem do chinês das barras paralelas. (A aterrissagem, aliás, é a única coisa que o pessoal sabe avaliar: caiu retinho, o público explode em comemoração, deu aquele passinho de bêbado pro lado, e um condolente "ohhh" ecoa pela arena.)

Portanto, meu caro, se você é um fã de esporte sofrendo por não estar aqui, relaxe. Pode parecer que a pessoa na arquibancada está vivenciando um momento único, vendo um homem nadar 50 metros mais rápido do que qualquer outro já nadou em toda a história da humanidade, mas talvez ela esteja é perguntando pro sujeito ao lado: "Rodolfo, qual que é o Phelps?", "O Phelps, Marlene? O Phelps não é só na próxima bateria?!", "Não, é agora! Falaram que era na raia 4!", "Contando daqui pra lá ou de lá pra cá?", "Ah, aí eu já não sei. Pergunta pra moço!", "Plis, mister, mister: Phelps, where, hein?".

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