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Nobres e plebeus

Apesar da diversidade olímpica, modalidades como hipismo e levantamento de peso ressaltam divisão de classes no esporte

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Os Jogos Olímpicos são celebrados como o encontro de povos, idiomas e culturas.

Apesar da diversidade do evento, que reúne 10 mil atletas de 205 países, ricos e pobres quase não se encontram em alguns esportes nos Jogos.

O maior exemplo se deu ontem nas disputas de medalhas do levantamento de peso e do hipismo.

Nesta Olimpíada, 55% dos atletas inscritos representam países com alto índice de desenvolvimento humano. Esses competidores são minoria no levantamento de peso -25% do total.

A modalidade é o palco preferido das nações pobres.

Já o hipismo, em que os superdesenvolvidos são 79% dos inscritos, se transformou no palco dos bacanas.

Ontem, até uma integrante da família real britânica foi premiada pela primeira vez na história olímpica. Neta da rainha Elizabeth 2ª, a princesa Zara Phillips participou da equipe que conquistou a medalha de prata para a Grã-Bretanha, no aristocrático parque real de Greenwich.

"Não sei explicar o motivo dessa separação de ricos e pobres na minha modalidade", afirmou o venezuelano do levantamento de peso Junior Sánchez, 23 anos e 69 kg.

"O importante é que, se não fosse este esporte, eu estaria bem longe daqui. Estou orgulhoso demais de representar o meu povo e o nosso presidente em Londres", disse o atleta, que levantou mais que o dobro do seu peso de uma só vez -148 kg- e terminou o torneio em quinto.

Tapas dados pelos treinadores nos rostos dos seus comandados como incentivo e gritos guturais dos atletas fazem parte do ritual das provas de levantamento de peso.

Com rivais de países que estão na periferia do mundo olímpico, Lin Qingfeng conquistou ontem a terceira medalha de ouro nos Jogos de Londres para a China somente nesta modalidade.

O pódio da categoria até 69 kg, que só teve representantes de países fora do grupo dos superdesenvolvidos, contou com o indonésio Triyatno (prata) e o romeno Constantin Razvan (bronze).

Até agora, as sete medalhas de ouro já disputadas na modalidade só foram parar nas mãos de chineses (três), norte-coreanos (duas) e cazaques (duas). O Brasil nunca conseguiu um resultado expressivo na modalidade.

"Pode ser uma questão financeira. Construir piscinas é muito caro. Já treinar levantamento de peso pode se fazer até no meio da rua", diz a inglesa Mary Anderson, 56, que acompanhava a disputa.

Já no hipismo, os superdesenvolvidos dominaram as provas em Greenwich. Na disputa por equipe, os brasileiros participaram do torneio, mas não ameaçaram os poderosos. A equipe nacional ficou em nono lugar.

"Fazemos um esporte de alto investimento. Precisa de muito espaço, animais. Apesar do nosso esforço em popularizá-lo, isso sempre acaba limitando a modalidade", disse a sueca Sara Ostholt. Na disputa por equipe, o ouro ficou com a Alemanha.

A Grã-Bretanha é um dos berços do hipismo. Inspirado no costume inglês de caça à raposa, o esporte teve início no século 19 e é um dos poucos que tem homens e mulheres se enfrentando nos Jogos.

A arena montada dentro do parque de Greenwich dava a dimensão exata da proximidade dos ricos com o esporte. A família real britânica assistia às provas da sacada do seu palácio na região.

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