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Edgard Alves

A medalha de Servílio

Único brasileiro a chegar ao pódio no boxe olímpico torce pelo país, mas está desiludido com o esporte

O boxe tem muitos aficionados no Brasil e sempre desperta interesse. Mas, dos 190 milhões de habitantes do país, um deles acompanha as disputas em Londres com uma expectativa diferente, especial. É Servílio de Oliveira, 64, paulistano do bairro do Ipiranga, o único brasileiro que ostenta uma medalha olímpica de boxe. Foi bronze nos Jogos do México, em 1968.

Embora tenha orgulho do status que a solitária medalha lhe confere, Servílio torce para que outra apareça logo. Até brinca, dizendo que sua medalha precisa de uma companheira. A oportunidade escapou com Robenilson de Jesus, que ontem perdeu para o cubano Lazaro Alvarez Estrada, na categoria até 56 kg. Ainda em Londres, três chances estão engatilhadas: com os irmãos Falcão, Esquiva (75 kg) e Yamaguchi (81 kg) e, no feminino, com Adriana Araújo (60 kg). Basta uma vitória de quaisquer deles.

Passada a Olimpíada do México, Servílio se profissionalizou e se converteu na esperança dos torcedores de que o Brasil teria em breve outro campeão mundial, no rastro dos passos de Eder Jofre, o "Galo de Ouro". Aliás, a conquista de Eder em 1960 foi o que atraiu Servílio para o boxe. Ele recorda que todo garoto queria ser como o Eder.

Na nova etapa como profissional, Servílio parecia insuperável. Já tinha batido mais de uma dezena de rivais, quando, em 1971, no ginásio do Ibirapuera, numa brilhante atuação diante do norte-americano Tony Moreno, sofreu descolamento de retina do olho, que o afastou dos ringues. Tentou voltar cinco anos depois, mas acabou vetado por causa do problema na visão.

Então, virou técnico e depois empresário de pugilistas. Hoje busca novos caminhos e cursa o sexto semestre de direito na Universidade Municipal de São Caetano do Sul.

Quarenta e quatro anos depois do inesquecível pódio na Cidade do México, ele continua apaixonado pelo pugilismo brasileiro, que

conhece como poucos. Mas, basta uma rápida conversa e fica evidente o desencanto com a modalidade. Por isso, anda afastado dos ringues, das academias e, principalmente, dos bastidores.

O romantismo dos velhos tempos, quando se praticava o boxe por amor, superava a falta de dinheiro. O mundo dos esportes evoluiu, ficou mais profissional, tem mais verba, mas o dinheiro público, investido pelo governo federal, fica pelo caminho e não chega ao atleta como deveria ocorrer na opinião dele. Aí está a raiz da decepção.

Servílio lamenta a falta de parceria com os clubes que formam os atletas, mas não podem contar com eles quando estão na seleção. "Falta massificação, não tem renovação e vamos sentir isso em 2016." Um alerta importante, de quem é dono de uma medalha solitária.

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