Índice geral Esporte
Esporte
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Rodrigo Bueno

My precious!

Taça da Libertadores seduz tanto os conquistadores que já é tradição pilhá-la

FAÇO dos corintianos e de todos os loucos pela Libertadores as palavras de Gollum, sinistro personagem de "O Senhor dos Anéis".

A reportagem dos colegas Leonardo Lourenço e Lucas Reis na Folha revelou os maus tratos recebidos pela mais cobiçada taça da América após ela chegar (enfim) às mãos do Corinthians. Sem querer perdoar o atentado à peça e sem querer absolver a Conmebol de seu descaso com sua criação mais consagrada, o que houve faz parte do protocolo da Libertadores.

Desde a criação do troféu, ficou estabelecido que ele nunca ficaria em definitivo com um clube. Isso já foi um estopim para a selvageria. Campeões faziam com o troféu o que bem entendiam. O Estudiantes, que oferecia anéis de ouro aos atletas que conquistavam a América, ensinou já nos anos 60 a judiar dele. Seus jogadores arrancavam o boneco que se destaca no topo da peça para ter uma recordação.

Outros mostravam mais carinho pelo objeto, mas também construíram cultura própria na sua manipulação. Enquanto o Boca providenciava placas com ouro de 18 quilates para marcar a taça, o Colo Colo a ornou em bronze. E prata foi o que mais apareceu nela nos últimos anos (metais olímpicos, faz tempo, geram pilhagem na América).

O maior inimigo da Libertadores foi o atacante Alcázar, do Once Caldas. Ele deixou a "bichinha" cair enquanto dava a volta olímpica em 2004. A taça se despedaçou, e os torcedores ficaram ávidos por souvenirs. A diretoria do Once Caldas ofereceu sem sucesso recompensa pelos cacos. Um torcedor entrou em contato com uma rádio dizendo estar com o futebolista do topo da taça, mas se negou a devolvê-lo, pois o tempo daria ainda mais valor àquele pedaço.

A espatifada Libertadores chegou em um baú a Santiago para ser reconstruída, algo que revoltou os peruanos, orgulhosos porque a obra de arte mais querida da América foi confeccionada em renomada joalheria criada nos anos 30 em Lima.

A taça nasceu com 96 cm e 12,2 kg. Tinha base negra e brilhante. Em 1981, passou a ter madeira de cor natural e, em 2003, esticou de 30 cm para 42 cm (para abrigar mais placas). Nem o artista contratado para reconstruir o troféu evitou que o jogador destro se transformasse em canhoto no alto da peça, algo corrigido depois. Bons tempos em que o ritual da Libertadores se parecia com o da "intocável" Champions League. O Independiente, ainda o "Rei da Copa", exibiu a taça em 1975 com um par de fitas nas cores do time e de seu país em suas "orelhas" laterais. O ritual perdurou até 1981 e se perdeu. Depois, houve até quem perdesse a taça toda. Parece que os conquistadores sempre verão a Libertadores como Gollum vê o seu precioso anel.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.