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Edgard Alves

A luta continua

O boxe recebe mais verba, mas só com a seleção. É como querer construir uma casa a partir do telhado

O boxe brasileiro lutou durante 44 anos para conquistar outra medalha olímpica. Acaba de superar a longa espera -assegurou três medalhas de bronze em Londres, e duas delas ainda podem virar prata ou ouro-, mas volta no tempo e abre suas cortinas para mostrar que, nos bastidores, pouca coisa parece ter mudado.

Bronze na estreia do torneio feminino na Olimpíada, Adriana Araújo não perdeu tempo para lançar farpas na direção do presidente da Confederação Brasileira de Boxe, Mauro Silva.

Acusa-o de falta de empenho com a modalidade e revelou que foi humilhada por ele, que chegou a falar que ela não tinha condições de se classificar. Soltou a língua, devolvendo a provocação ao dizer que a medalha é um cala-boca.

Eduardo Ohata, enviado da Folha a Londres, buscou o outro lado e ouviu do presidente uma resposta pouco elegante, novamente provocativa. "Ela não vai virar para 2016." Mais ou menos como: pouco importa, ela não estará nos Jogos do Rio. É difícil acreditar numa atitude desse tipo, da liderança. Na verdade, é indício de que a atleta não deve estar exagerando. Na melhor das hipóteses revela a existência de conflitos nos bastidores.

Adriana também levantou outra questão que tem a ver diretamente com preparação de seleções. Residente em Salvador, teve de treinar em São Paulo, abdicando das orientações de seu técnico Luiz Dórea, o mesmo que trabalhou com o campeão mundial Popó.

Servílio de Oliveira, que se manteve solitário como medalhista do boxe desde o México-1968, lançou um alerta sobre o frágil trabalho de base, que dificulta o surgimento de novos valores, comprometendo a renovação para a Olimpíada do Rio. Seu filho Gabriel Oliveira, que integrou a comissão técnica do boxe em Atenas-2004, vai na mesma linha. Torce pelo time de Londres, fruto do trabalho nos dois últimos ciclos olímpicos. Para um pugilista atingir o patamar do alto rendimento, o tempo varia de seis a oito anos.

Com o incentivo da lei Piva, o boxe passou a receber mais verba do governo, e os pugilistas, a ter mais respaldo para treinamentos, material esportivo, alimentação e viagens. Mas isso ocorre apenas com a seleção. É como querer construir uma casa partindo do telhado.

Além disso, o boxe tem desafios permanentes para manter os pugilistas na condição de olímpicos. Por necessidade econômica, alguns buscam outras atividades. Outros acabam optando pelo boxe, mas o profissional. Estes, via de regra, são aqueles mais bem preparados e com potencial, alvos dos empresários. Além disso, novo caminho se abre, o MMA (Artes Marciais Mistas), atrativo na TV e com público crescente. No boxe, a luta continua, dentro e fora dos ringues.

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