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Zé Roberto leva 3º ouro com psicologia, carinho e superstição

VÔLEI Técnico, vencedor com os homens em 1992 e com as mulheres em 2008 e 2012, é o 1º tri olímpico do Brasil

DAS ENVIADAS A LONDRES

José Roberto Guimarães, 58, pode dizer que recebeu o sinal de que chegaria ao ouro antes mesmo de entrar na Vila Olímpica de Londres.

Enquanto sua credencial era checada, olhou para o lado e viu um homem corcunda. Na hora, veio o estalo.

Para os supersticiosos, repetir roteiros de sucesso é obsessão. Quando sua meta é se transformar no primeiro brasileiro a conquistar três ouros em Olimpíadas, essa mania pode chegar ao extremo.

Em Barcelona, 20 anos atrás, ele havia encontrado um garçom corcunda em um restaurante antes dos Jogos.

"E quando você encontra um, tem que passar a mão nas costas e fazer um pedido. Pensei: 'Tenho que tocar nesse cara, mas como?'", contou.

Se fez em Barcelona e se tornou o primeiro campeão olímpico do país em um esporte coletivo, tinha de repetir o mesmo em Londres.

O treinador pediu ajuda a um funcionário do Comitê Olímpico Brasileiro, que lhe deu um pin, pequeno broche com a logo da delegação.

"Mas aí o corcunda sumiu. Eu fiquei alucinado. De repente, ele voltou. Eu dei o pin para o cara e passei as mãos nas costas", disse, rindo.

Premonição ou não, o homem que se desdobrou para passar a mão nas costas de um corcunda estava ontem de novo com o ouro no peito.

Não literalmente, porque técnico não ganha medalha. Mas a atacante Natália, 23, mais jovem da equipe, a colocou no pescoço do treinador de forma simbólica, durante a festa na quadra.

Zé Roberto, que desde 2003 tenta "desvendar as mulheres" para comandar a seleção, teve um de seus mais difíceis testes em Londres.

Em Barcelona-1992, ele foi campeão com os homens.

Após superar o trauma da semifinal para a Rússia em Atenas-2004 e dar a volta por cima com o ouro quatro anos depois, em Pequim, ele quase viu seu time cair na primeira fase. As jogadoras estavam abatidas, no fundo do poço.

"Quando eu achava que as coisas estavam ruins, pioraram. Ele tinha duas opções: uma era cobrar, exigir, buscar soluções. E a outra era dar a mão", afirmou Fabi.

"Quando você vê um cara experiente dizendo que estava ali disposto a dar a mão, nós vimos que não estávamos sozinhas. Talvez tenha sido o maior mérito dele."

Zé Roberto já havia dito que, em meio à crise, percebeu que as atletas não precisam de mais cobranças.

Ontem, tentou se controlar. Deu broncas, mas também vibrou e pediu calma centenas de vezes. Pedido que ele talvez também estivesse precisando ouvir.

"Era um grito e um 'valeu'. Ele foi impressionante", afirmou a levantadora Dani Lins.

O contrato do técnico com a confederação acabou ontem. Ele dirigirá um time em Campinas e não conversou sobre renovação. "Não vou pensar nisso agora."

E, antes de pensar em contrato, Zé Roberto terá de cumprir outros compromissos.

Sua mulher, Alcione, passou ontem três horas e meia na igreja e, como ele, terá muitas promessas a pagar.

"Nunca rezei tanto. Nunca pedi tanto", afirmou o agora tricampeão olímpico.

(MARIANA BASTOS E MARIANA LAJOLO)

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