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Xico Sá

Vergonha histórica

Todos nós, torcedores e jornalistas, somos umas víboras quando o assunto é o futiba

Amigo torcedor, amigo secador, foi muito boa, além de educativa, a resposta do técnico Ney Franco diante da pergunta, à queima-roupa, sobre o sentimento depois da derrota do São Paulo para o Clube Náutico Capibaribe.

"Não é de vergonha, com certeza. A gente não está fazendo nada errado. Não fazemos parte do mensalão, não estamos roubando ninguém. Estamos todos os dias no CT, tentando fazer ajustes no time e podemos sair na rua de cabeça erguida", disse.

Certíssimo. Todos nós, torcedores e jornalistas, somos umas víboras, uma multidão de clones do Joel Silveira -o sergipano que julgo o maior repórter do Brasil de todos os tempos- quando o assunto é o futiba.

Compreendo a passionalidade. Já atirei muitos radinhos de pilha em cabeças de bandeirinhas e troquei o amor domingueiro de mãos dadas no cinema por uma imbatível melancolia ludopédica.

Por isso mesmo gostei tanto da declaração do mineiríssimo Ney Franco. E repare que sou um secador contumaz e histórico do tricolor paulista. O meu corvo Edgar, a mais agourenta das aves, que o diga.

Sim, o Edgar viu o jogo nos Aflitos, o segundo campo predileto dele, no ombro de um timbu. Confiei a sua guarda ao amigo Sérgio Barbosa, que suspendeu, por 90 minutos, a lua de mel com a bela Cecília para conferir o espetáculo. Explico: o campo da primeira preferência do corvo é a Baixada Melancólica, o estádio de Santa Maria (RS).

Educativo técnico são-paulino. Seja na privataria tucana ou no mensalão petista, é preciso um discurso parecido com o do Ney Franco. Necessário mostrar que, no mínimo, a marcação sob pressão deve atingir não apenas Mano Menezes e a pátria em chuteiras, seja nos times ou no jogo da amarelinha.

Folheada toda a cartilha moral, comentemos sobre a partida de fato. O Timbu está impossível. Repetiu os 3 x 0 contra o Santos. Nos dois jogos, lembrou o esquadrão de Nado, Bita, Nino e Lala, uma equipe que deixava as agremiações sudestinas nervosas de véspera.

O Timbu tem justificado o apelido macho-marsupial. Sempre vai lá e apronta. E ainda há uns miseráveis adversários que insistem em chamá-lo, maldosamente, de "Barbie". Faz parte da graça do futebol, da tiração de onda, a vida como ela é no boteco. Assim como o São Paulo, sacanamente tido como "Bambi". Calúnias zoológicas à parte, que maldade. Volto ao drama do jogo.

Um dos mais emblemáticos deste Brasileirão lento e morgado. Repare em outro grande personagem da peleja: o mito tricolor Rogério Ceni. Fez um gol fantasma. Não apenas o Cleber Machado gritou gol como todos nós, torcedores e secadores, demos como mais um tento do "goalkeeper". Minutos depois, Ceni faria contra a própria meta. Para delírio dos seus detratores.

@xicosa

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