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Xico Sá

Sobrou para o acarajé

Amigo torcedor, amigo secador, parece gozação de baiano, esse povo que sabe viver e tirar onda da existência, mas não é. A venda de acarajé pode ser proibida, a pedido da Fifa, nos arredores da Fonte Nova durante os jogos.

Será o triunfo definitivo do hambúrguer do McDonald's, patrocinador da entidade, sobre os quitutes de Dona Flor e Gabriela. Pelo regulamento, num raio de dois quilômetros, os patrocinadores -da cerveja ao sanduíche- não podem enfrentar a concorrência dos ambulantes. Isso é que é livre iniciativa. Não estou na condição de dublê do patriota Policarpo Quaresma, o nacionalista radical do livro do Lima Barreto, só abestalhado com a história. Assim o requintado acarajé, patrimônio imaterial da humanidade, vai para o banco de reservas.

É notícia aparentemente sem importância, dirá o amigo, mas revela o absurdo do contrato fechado para sediar o circo. O clássico tropeiro do Mineirão, água na boca, nem pensar, meu velho. A tapioca em Fortaleza, o cachorro quente, carinhosamente batizado no Recife de "comeu-morreu" ou "Jesus me chama", também serão castigados.

Como se não bastasse a Justiça pernambucana ter fechado o McBode, por solicitação de um ofendido McDonald's, agora me vem essa determinação para a Copa.

O que é um estádio brasileiro sem um "churrasquinho de gato" fumegante, maldita gente da Fifa? Não existirá Itaquerão antes que um vendedor dessa impagável iguaria se instale diante dos seus portões. Não mesmo. E os espetinhos de cordeiro em Porto Alegre? Um dos melhores que comi na vida, com um Grenal arrepiante de sobremesa.

Cadê o nacionalismo do ministro Aldo Rebelo (Esporte), defensor da mandioca e do saci-pererê, em uma hora dessas? Espero que o palmeirense reaja, como o seu time tem renascido para fugir da Segundona.

PÁGINAS SEM GLÓRIA

Aproveitei o apagão do tal Superclássico das Américas para ler "Páginas sem Glória" (Companhia das Letras), de Sérgio Sant'Anna, bravo torcedor do Fluminense. Temos uma fartura de biografias e livros jornalísticos sobre futebol. A ficção, porém, ainda é escassa. O livro do craque tricolor chega como clássico.

No conto, a fineza da escrita de Sant'Anna é mesclada com a linguagem mais tradicional da crônica esportiva. No Rio dos anos 1950, o boleiro e farrista Zé Augusto sai das peladas de Copacabana direto para o Flu. Mas o destino reservara mesmo para o Conde, seu apelido, um fim de linha no Bonsucesso.

Fique atento, amigo, à descrição da cobrança do pênalti executada pelo frio Zé Augusto. O jogo pode ter sido uma pelada. A narrativa do escritor é futebol-arte, algo como o calcanhar de Sócrates ou o elástico do Rivelino da literatura brasileira.

@xicosa

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