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Edgard Alves

O abc do antidoping

Inédito controle de dopagem do Brasil começa mal: mulheres coletando urina diante de um homem

A ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) começou mal suas atividades.

Nos seus primeiros exames antidoping, realizados na semana passada, numa sala do Clube do Exército em Brasília, com jovens do Bolsa-Atleta do Ministério do Esporte, mulheres foram submetidas à coleta de urina diante de um homem, e não de um mulher.

O homem, um médico português com 25 anos de experiência em controle de dopagem, ficou de costas para as atletas, mas o procedimento não deixou de ser constrangedor e gerou críticas.

Um passo errado que está sendo corrigido. Pelo menos é o que informou o diretor-executivo da ABCD, Marco Aurélio Klein, adiantando que testes realizados em São Paulo já foram acompanhados por uma médica, e outra profissional está preparada para exames no Rio.

Estranho foi o próprio Klein justificar como normal o procedimento em Brasília, que contraria norma para testes estabelecida pela Agência Mundial Antidoping (Wada). O regulamento da entidade aponta que o médico tem de ser do mesmo sexo do atleta.

Em declarações publicadas pelos meios de comunicação, atletas afirmaram ter questionado as condições para o exame, mas foram informadas de que se tratava de um procedimento médico e, caso não se submetessem ao mesmo, a recusa seria registrada. E atleta que se nega a fazer o teste corre o risco de sofrer suspensão de dois anos.

Um treinador, que também procurou saber por que o procedimento estava sendo feito daquela maneira, foi informado de que a equipe da entidade era nova e não tinha uma oficial mulher para aquela função. A ABCD foi lançada em novembro de 2011 e está começando seu trabalho, montando sua equipe.

Nas duas semanas da Olimpíada-2016, no Rio, calcula-se que realizará até 6.000 testes, um grande desafio. Dentro de dois meses, deve lançar seu programa nacional de controle de dopagem para debate com entidades esportivas.

As atletas e o técnico que deram as declarações sobre os exames em Brasília pediram que seus nomes não fossem divulgados, fato revelador de como é forte a pressão que envolve testes antidoping. Certamente temem retaliações, embora elas sejam bastante improváveis.

É difícil imaginar a chance de ocorrerem. Os atletas precisam sentir segurança quando sorteados para se submeterem aos testes, respaldando ainda mais a necessidade de sua realização. Talvez, com o passar do tempo, transparência mais informações e garantias de segurança superem definitivamente qualquer tipo de receio. Afinal, esses testes viraram rotina. O controle antidoping busca aprimoramento contínuo. É o fiel da balança na busca por uma competição mais justa, sem malandragem e sem artifícios que desequilibrem as disputas.

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