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Xico Sá

A epifania de Cachito

Vilão da Libertadores, Ramírez pôs fim ao seu calvário e saiu falando línguas estranhas

Amigo torcedor, amigo secador, reza a lenda no Parque São Jorge, à qual damos total crença, que desde a tragédia de Ibagué, na Colômbia, Cachito Ramírez ficou mudo. Como se uma maldição de um pajé lhe subtraísse o dom da fala.
Como o corintiano não esquece, naquela fatídica noite de 2 de fevereiro, o time foi eliminado pelo Tolima da fase inicial da Libertadores da América, a única glória inédita na vida do clube. O peruano Ramírez, expulso de campo por um desatino, ficou marcado como um dos vilões do embate.
Anteontem, o sensitivo Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, cuja capacidade sobrenatural carrega desde as pelejas no Guarany de Garibaldi, recebe um sinal do além. Era chegada a hora de mandar o esquecido e mudo meia peruano a um dos jogos mais difíceis da jornada rumo ao título.
Soprava um estranho vento frio, como se viesse das cordilheiras e não das praias alencarinas, quando Cachito Ramírez adentra o gramado do estádio Presidente Vargas, o PV. "Vai, 'hijo', sinto que terás tua noite redentora", aconselhou o técnico, conforme apuramos.
O mesmo profético Tite, não esqueça, que desistiu, por este mesmo aviso de uma força estranha, de mandar a campo o ainda momesco Imperador Adriano.
Ainda mudo e com as pernas amarradas pela maldição colombiana, Cachito deu os primeiros passos no Presidente Vargas, o mitológico estádio PV, Fortaleza, Ceará, a terra da luz, 16 de novembro do ano da graça de 2011.
Deu-se então a epifania que todos vimos. Cachito Ramírez põe fim ao calvário e mudez, marca um dos gols mais importantes da temporada e sai na direção da torcida e dos destemidos mosqueteiros falando línguas estranhas, um verdadeiro Pentecostes em portunhol selvagem.
Não sei se você reparou, amigo, na cara de assombro de um gandula cearense no momento em que o herói corintiano recitava intraduzíveis provérbios bíblicos. "Arre égua, que macho de sorte", ainda disse o incrédulo gandula, na melhor prosódia cabeça-chata da nossa terra.
Ontem, não se falou em outra coisa do Brás até o final da Sapopemba, avenida tão longa quanto a vida eterna, em São Paulo. Só se falou de Cachito Ramírez, o possível herói do título do Brasileirão, que chega ao momento mais dramático.
Que Fred que nada, os gols ante o Grêmio não valeram meia palavra da epifania do peruano iluminado pelos deuses incas de Machu Picchu.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa

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