São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2008

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XICO SÁ

Paixão roxa


É bacana que os times ousem nos seus terceiros uniformes. Podem acabar no SPFW, mas com a bola que estão jogando...


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, chega de gastar a tinta da melancolia e o mata-borrão dos cricris, como tem ocorrido a este cronista nas últimas rodadas. É hora de sacar da orelha, qual um ruidoso feirante da Bela Vista, a Bic azul do escárnio e da galhofa. Assunto não falta, mesmo na folia, mesmo aqui ao som dos clarins de Momo.
O que achei da camisa roxa do Corinthians? É o motorista Oliveira, tricolor doente em horário comercial e homofóbico 24 horas aqui na área da Augusta, que provoca. Ora, achei lindíssima, além de chique no último, digo. E devolvo o balão da HQ em branco e preto para o taxi driver, no que o desalmado preenche, numa manhã janeirosa borrada de chuva: "Quero ver se daqui por diante esses gambás ainda terão coragem de chamar os são-paulinos de bambis!".
Dom Marivas de las Taipas, amigo baiano da zona norte, mosqueteiro de nascença, chega e entra de sola, ainda sobre o drama alvinegro: "Homem que é homem veste baby-doll vermelho na Paulista e ninguém desconfia da sua ficha corrida".
Machezas latinas e veadagens globalizadas à parte, essas obsessivas roseiras temáticas, é bacana que os times ousem nos seus terceiros uniformes, macaqueando os europeus. Sim, correm o risco de acabarem na passarela do São Paulo Fashion Week, mas, com a bolinha que estão jogando, qual o problema, mano?
Por mais que abusem nas suas cores, a paixão roxa do Corinthians, a laranja do Fluminense e o verde new-wave do Palmeiras jamais chegarão à escala das estilosas camisas originais do maranhense Sampaio Corrêa e do Madureira carioca. "A camisa mais bonita é a do São Paulo", retoma o taxista Oliveira, perdigotos tricolores nos meus óculos de pára-brisa. "E é camisa de macho, sem enfeite, num tem pisca-pisca feito vaga-lume no escuro."
Coitado do Oliveira, nunca viu a camisa do Juventus (o da Javari, claro) sem patrocínio, talvez a mais linda do planeta. Ou seria a do Botafogo, a listrada, dos tempos em que a publicidade ficava só nas placas do estádio? A alvinha do Mesquita, última vítima do Fogão, também tem o discreto charme do teste da janela, como a do inimitável Peixe, aquela da música dos Racionais, que diz assim, na moral da guerra: "Revirou os banco, amassou meu boné branco,/ sujou minha camisa do Santos".
Falar em Botafogo, amigo, como se não bastasse ser o melhor time do momento, o técnico Cuca reinventa a democracia ludopédica ao abolir as concentrações dos atletas. "Ih, vai virar uma zona, já, já pegam neguinho no morro comprando cocaína na véspera do jogo", comentou o taxista Oliveira, ombudsman e bedel da humanidade como todo careta que se preze. "Melhor chamar logo o dom Diego para chefiar a parada."
E, nesse táxi, Oliveira enche o saco. "Viu só o Maradona pedindo desculpa aos ingleses pelo gol da mão de Deus?" Refere-se à entrevista de um tablóide na qual o baixinho tira a maior onda dos afilhados da Rainha. "E eu sou contra boleiro fazer sexo antes do jogo", atazana o homem da bandeira 2, citando o papo da concentração. "Perde o instinto animal e primitivo na hora da peleja."
Peraí, eu discordo. Melhor uma rapidinha antes do jogo do que uma vida eterna sem sexo após a morte.

xico.folha@uol.com.br


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