São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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JUCA KFOURI

Ricos meninos pobres


Dos milhões que são gastos na aquisição de craques, uma parte deveria ser investida na cabeça deles

ROBINHO, ADRIANO , Ronaldos.
Tantos.
Indiscutivelmente talentosos com a bola nos pés, mas desastrados longe dela.
Ricos nas contas bancárias, mas pobres de espírito.
Suas vidas se resumem ao futebol e às baladas, às baladas e ao futebol.
Estrelas populares cujos brilhos diminuem à medida que o tempo passa e cujo desgaste afasta da atividade principal, mãe de todas as outras, o jogar futebol bem, maravilhosamente bem. Mas que importa?
O futuro sem preocupações materiais já está garantido!
Mal sabem, ou alguns até já sabem, que, de repente, bate uma nostalgia, uma vontade louca de voltar a ser, de olhar para as arquibancadas lotadas em uníssono saudando o nome do ídolo.
Ídolo, que ídolo?
Ex-ídolo.
Ex-ídolo do Santos, do Real Madrid, do Flamengo, da Inter, do Barcelona, do Milan.
De tantos.
E com saudade de estufar a rede, de correr para o abraço, de eventualmente correr para o alambrado e comemorar com os pobres, mas ricos em emoção.
Emoção que vicia e que eles vão buscar na noite e em suas atrações.
Sejam as que alucinam, sejam as que excitam, sejam quais forem, mas incompatíveis com o correr 90 minutos, com o bater forte, com o apanhar doído, com o jogar de cabeça erguida.
Cabeça, que cabeça?
Sim, as cabeças precisam ser tratadas até para conviver com tanta facilidade -Diego Maradona e Walter Casagrande Júnior que o digam. E quem gasta tanto para tê-las, por que não gastar uma ínfima parcela para tratá-las?
Futebol, sexo, drogas e rock and roll. Bela mistura. Doutor Sócrates não vai gostar, Xico Sá vai ridicularizar, mas o fato é que a vida exige opções. Ou bem se faz uma coisa ou bem se fazem outras.
Algumas, ao mesmo tempo, são simplesmente incompatíveis.
Salvo raras exceções, rigorosamente extraordinárias como Romário, baladas diárias e futebol duas vezes por semana não ornam, não casam, repelem-se.
E é o que mais temos visto por aí, a ponto de até Pelé reclamar, ele que sempre cuidou do físico para poder reinar mais tempo, sem nunca ter sido santo, ao contrário.
"Quero fulano para jogar no meu time, não para casar com a minha filha", eis aí, de novo, a frase emblemática que até fazia sentido para os tempos românticos. Mas não faz mais, quando talento e saúde são exigidos quase em igual proporção.
E não se trata de moralismo, conservadorismo, reacionarismo, nada disso. São meras constatações, basta olhar para o momento vivido, hoje, pelos acima citados.
Não é preciso ser bom moço carola feito Kaká, mas também não precisa exagerar.
Porque o exagero torna até a curtição mais curta.
E a exposição desnecessária deles e o mole que dão beiram tanto as raias do absurdo que se confundem até com burrice, embora, de fato, sejam, apenas (?!), frutos de má, de péssima orientação.
É preciso cuidar deles.

blogdojuca@uol.com.br


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