Novo terminal de Pequim tem 1 milhão de m2 e consumiu US$ 3,65 bilhões

Cartão-postal da cidade será ligado ao centro por trem de alta velocidade, mas ainda precisa superar problemas com atrasos e improvisos

Reuters

Vista noturna do novo terminal de Pequim

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Cinco vezes maior que a soma dos dois terminais do aeroporto de Cumbica, o terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pequim foi inaugurado ontem.
Com 1 milhão de metros quadrados e três quilômetros de extensão, é o maior terminal aeroportuário do mundo.
É um cartão de visitas megalomaníaco da nova China, sob medida para impressionar milhares de atletas e os estimados 500 mil turistas estrangeiros esperados na capital chinesa para os Jogos Olímpicos, que começam em 8 de agosto.
Ao custo de US$ 3,65 bilhões (cerca de R$ 6 bilhões), é a construção mais cara entre todas já erguidas na cidade para a Olimpíada, cujos gastos em infra-estrutura devem alcançar US$ 40 bilhões (cerca de R$ 68 bilhões) em sete anos. O Estádio Olímpico (o "Ninho de Pássaro"), por exemplo, já consumiu mais de U$ 400 milhões.
"É uma instalação segura e não competitiva dos Jogos Olímpicos", disse o vice-gerente-geral da empresa que administra o aeroporto de Pequim, Dong Zhiyi, durante a inauguração. A festa de ontem teve bandinha com instrumentos musicais típicos chineses e papel picado dourado.
"Temos muito orgulho de nossa nação", completou.
Com o novo terminal, o aeroporto de Pequim deve ser o terceiro mais movimentado do mundo, com 76 milhões de passageiros, contra 53 milhões no ano passado. Em 2000, o aeroporto recebeu 20 milhões.
Até junho será inaugurado um trem de alta velocidade que ligará o novo terminal ao centro de Pequim em 15 minutos. Obra importante também para receber os visitantes que participarão da Olimpíada.
Além dessa comodidade, turistas que chegarem pelo novo terminal verão uma obra com poucos níveis, que privilegia esteiras em vez das escadas rolantes tradicionais. No chão há sinais, como pegadas, que criam trilhas indicando o caminho de embarques domésticos e internacionais, em chinês e inglês.

Forma de dragão
Feito em aço e vidro, o terminal foi desenhado pelo arquiteto inglês Norman Foster, um dos mais premiados do mundo (autor da cúpula envidraçada do Parlamento alemão, em Berlim). O teto curvilíneo possui clarabóias triangulares para permitir entrada de luz natural.
Como outros arquitetos estrangeiros que estão fazendo obras bilionárias na China, Foster afirmou que o prédio contém vários elementos da cultura tradicional do país. A cor vermelha está nos gigantes pilares externos, e a dourada, no teto. Disse também que o prédio teria formato de dragão.
Mas é preciso muita boa vontade estética e imaginação para ver as vértebras de dragão no prédio e achar que o alaranjado do teto é dourado.

Café a US$ 8
Mais boa vontade ainda será necessária se o serviço do aeroporto não melhorar até agosto, o mês da Olimpíada.
Segundo pesquisa da revista americana "Forbes", o aeroporto internacional de Pequim foi o segundo do mundo em número de atraso em partidas, só perdendo para o de Brasília.
Apenas 33% dos vôos saíram no horário em 2007. Pequim conseguiu ficar atrás de Cumbica e Congonhas, respectivamente terceiro e quarto lugares, de acordo com a "Forbes".
A reportagem da Folha visitou algumas das 84 lojas do terminal, número relativamente pequeno para a gigantesca obra. Vários funcionários cercam o repórter com seus melhores sorrisos e um "Can I help you?" ("Posso ajudá-lo?", em inglês) na ponta da língua. Mas, à primeira pergunta em inglês, todos se entreolham, sem saber responder.
A pouco mais de cinco meses dos Jogos Olímpicos, não havia um único material em inglês sobre o aeroporto - a assessoria de imprensa distribuiu à imprensa uma única folha sulfite com ideogramas.
Apesar do aparente improviso, o cafezinho em uma das lanchonetes do aeroporto já tem preço de nova China. Um expresso sai por US$ 8 (R$ 13,36).


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