São Paulo, terça-feira, 01 de março de 2011

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LOS GRINGOS - PAUL DOYLE

Cérebro de Arsenal


Quando algo dá errado, o Arsenal fica paralisado, incrédulo. Essa vulnerabilidade encoraja os rivais


CESC FÀBREGAS diz que seu colega de equipe Jack Wilshere tem "pés espanhóis e coração inglês". Esqueceu-se de um ingrediente: Wilshere também tem cérebro de Arsenal. Trata-se da segunda mais misteriosa entre as peças da anatomia futebolística inglesa, logo abaixo do cotovelo de Rooney e sua capacidade mágica de ficar invisível para os juízes no momento em que se choca com o rosto de um rival.
Fabio Capello disse que Wilshere é a plataforma do meio-campo da seleção. Aos 19 anos, ele já exibe visão de jogo, técnica e compostura suficientes para sugerir que a profecia faz sentido. Seu espírito de luta faz com que até as torcidas rivais o admirem.
Wilshere procura fazer passes incisivos e enxerga espaços rapidamente -forma de pensar que Arsène Wenger instila em seu elenco. Mas também exibe outras indicações de que se formou no Arsenal. Na ridícula derrota para o Birmingham, na final da Copa da Liga, Sagna fez um passe curto demais para Wilshere, e um jogador do Birmingham interceptou.
Paul Scholes, com quem Wilshere costuma ser comparado, teria imediatamente dado combate ao rival para tentar recuperar a bola, ou ao menos faria a falta. Outro dos pupilos de Alex Ferguson, Roy Keane, teria corrido imediatamente para recuperar a bola e, ao mesmo tempo, fazer a falta. Wilshere tentou acompanhar o jogador do Birmingham, mas não conseguiu.
Sua reação inicial foi parar e sacudir a cabeça, incrédulo com o erro em um passe tão simples.
É uma reação comum no Arsenal nos últimos seis anos. Quando algo dá errado, os atletas ficam momentaneamente paralisados, por incredulidade ou introspecção. Essa vulnerabilidade encoraja os rivais. Mesmo após sofrer quatro gols no mês passado, o Newcastle continuou acreditando que conseguiria recuperar a desvantagem diante do Arsenal -e conseguiu. E o Barcelona certamente crê que o rival despencará no Camp Nou, pela Copa dos Campeões, assim como o Manchester United se manterá otimista em faturar o título da Premier League, mesmo que perca para o Chelsea hoje.
O lado bom é que as frustrações darão ao Arsenal experiência suficiente para pôr fim à sua longa espera por um título. Quanto a Wilshere, se ele continuar parando para pensar sempre que um colega de time errar um passe, sua carreira na seleção inglesa vai parecer uma viagem em uma rota movimentada de ônibus de Londres. Na hora do rush.

PAUL DOYLE é redator-chefe de futebol do jornal britânico "The Guardian"

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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