São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004

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FUTEBOL

Todo mundo sabe

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Existem coisas que todo mundo sabe e parece que finge não saber até uma câmera escondida fazer um escândalo na TV. Casos de corrupção, por exemplo -duvido que alguém tenha passado a vida toda sem participar de um "acordo" ou presenciar uma caixinha para um fiscal ou um guarda de trânsito. Estamos tão acostumados e imersos nesse sistema corrompido que reclamamos dos corruptos, mas estranhamos e desafiamos os incorruptíveis ("Pô, amigo, quebra um galho") e esperneamos se formos punidos ("Tantos roubando milhões..."). Tudo errado.
Ano passado, Torero escreveu sobre a evasão de renda na Vila Belmiro. Ninguém contou, ele mesmo viu: o "pagante" entregava os ingressos mas passava ao lado da catraca. Quem freqüenta estádios já cansou de ver cenas assim. Há esforços para modernizar o processo, mas não por parte de quem ganha com a bagunça.
Além das cenas que nós mesmos acompanhamos, existem os depoimentos reveladores de boys, motoristas, secretárias, telefonistas, faxineiros... Personagens importantes no desmanche de estruturas viciadas muito antes de se inventarem os grampos telefônicos. Tempos atrás, um deles contou o que presenciou em uma agência bancária: um empresário de jogador de futebol insistia para que o cheque do salário do atleta fosse devolvido -apesar de ter fundos. Os funcionários do banco se negaram a fazê-lo, e o agente ficou furioso, dizendo que por culpa deles perderia milhões. É fácil entender por quê: se ele "provasse" que o jogador estava sem receber, o contrato com o clube poderia ser rescindido sem multa. Um escândalo. Por coisas assim, dizem que "empresário nenhum presta". Os honestos pagam pelos outros. Não dá para continuar assim. É preciso mudar o que todo mundo sabe que tem de mudar.
 
Que desânimo. Os astros incontestáveis, testados e aprovados nos gramados pelo mundo, estimados por 90% dos torcedores, erram passes, dribles, lançamentos e finalizações com a camisa da seleção. Fica difícil saber se eles não jogam bem porque o esquema não ajuda ou se esquema nenhum funciona quando os principais jogadores não vão bem.
Ronaldinho, Ronaldo e Kaká não se entenderam, tampouco com o resto do time. Será que os jogadores de meio-campo não se aproximaram dos três como poderiam (ou deveriam) por insegurança, excesso de respeito, de confiança na capacidade deles ou por ordens do Parreira? Ele enfatizou a liberdade que o trio teria e talvez tenha insistido demais com os outros sobre a importância da marcação. O fato é que Zé Roberto, Renato e os laterais trabalharam pouco com o ataque. Com Juninho, o time se soltou mais.
Sem tempo para treinar, é importante que as conversas sobre o jogo sejam muito acertadas. Tenho dúvidas se têm sido. É preciso dizer que seleção nenhuma tem convencido. Começo a desconfiar que, com esse calendário, não tem como dar certo.

Fofoqueiros
Milene Domingues sempre disse que considerava Zidane o melhor do mundo -"eu o admiro especialmente por jogar na minha posição", explicou, muito tempo atrás, ao eleger seus favoritos em campo. Mas a escolha do francês em uma entrevista à Sportv foi tratada em toda parte como picuinha contra o ex-marido. Depois mulher é que gosta de mexerico.

Lástima
Torcedores do Paulista que não têm nada a ver com as barbaridades cometidas em Jundiaí ficarão longe do time na semifinal. Mas outros clubes já perderam o mando por incidentes menos graves; é preciso cumprir a lei. E tirar de circulação os arruaceiros que todo mundo conhece.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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