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A ilha
Com o Pan como meta, confederação de remo põe atletas na concentração durante cem dias
Processo seletivo para os
Jogos isola competidores e
envolve até disputas entre
os companheiros de uma
determinada embarcação
Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem
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Remadores brasileiros que buscam vaga no Pan treinam no rio Guaíba, em Porto Alegre
LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Atletas confinados em uma
ilha, convivendo 24 horas por
dia durante meses e competindo esporadicamente entre si,
para definir as eliminações.
Não é roteiro de "reality show".
É o processo seletivo da equipe
brasileira de remo para o Pan.
No início de dezembro do
ano passado, 42 remadores foram convocados. Hoje, depois
de quase cem dias ilhados
-houve dois breves períodos
de folga-, há 31 sobreviventes.
O cenário é sede de remo do
Grêmio Náutico União, na ilha
do Pavão, situada no rio Guaíba, em Porto Alegre. O centro
da cidade é próximo, mas só
acessível por meio de balsas,
que levam 20 minutos no trajeto e param de operar às 21h.
Lá, há tudo o que os remadores precisam para treinar. E
muito pouco além disso.
"Por mais que seja perverso
ficar ilhado por tanto tempo,
para a evolução da equipe, esse
confinamento é tudo. Aqui a
gente vive o remo e a perspectiva do Pan 24 horas por dia. Não
dá para pensar em outra coisa",
diz Henrique Vieira Motta, 26.
No caso dele e de seus colegas
no quatro sem peso-leve, o confinamento começou em outubro, visando o Sul-Americano,
vencido no mês seguinte.
Mas dois membros daquela
guarnição -Alisson Oliveira de
Araújo e Marcelo Souza dos
Santos- foram cortados, após
os campeões sul-americanos
terem sido vencidos pelo outro
quatro sem peso-leve nacional.
"Perdemos a disputa num domingo e, três dias depois, houve
um teste dos quatro, que eliminou os dois de pior desempenho. Foi cruel. Estávamos unidos e passamos a competir entre nós para sobreviver", conta
Henrique sobre seu momento
crítico na concentração.
No próximo fim de semana,
quando acaba esta etapa do
confinamento, seu barco, com
dois novos componentes, terá
novo confronto com os algozes
nacionais. Os vencedores devem ser titulares do Pan.
Se os atletas são unânimes
em apontar os cortes como os
piores momentos, para o técnico Rodney Bernardes Júnior, o
mês mais traumático foi janeiro, quando houve pesados testes físicos. "Ficaram doentes
pelo desgaste, e isso me afligiu."
Mas até ao tratar das doenças
Rodney Jr. vê virtudes no modelo de concentração tão prolongada, inédito no Brasil.
"Aqui, eles ficaram doentes e
nós vimos. É diferente do treino nos clubes, quando podem
alegar doença por telefone e
perder treino, por exemplo, por
excessos na noite anterior."
A internação também incentiva a criatividade. Para gastar
menos em ligações para as famílias -não há orelhão na
ilha-, os atletas compraram
um celular desbloqueado que
aceita chips de todos os Estados. Não pagam interurbano,
só a taxa de deslocamento.
Eles contam também com a
boa vontade do pessoal do Grêmio, que abriu exceção para Fabiana Beltrame levar à concentração Bel, sua cachorra.
Mas ainda há comportamentos estranhos para os funcionários do clube. "Nunca vi tomarem tanto café", diz Claudio
Viana, administrador do local,
mais afeito ao chimarrão.
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