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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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FUTEBOL

Os vários saberes

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Freud dizia que tudo que seus pacientes descobriam, após anos de análise, eles já sabiam. Só não sabiam que sabiam. O mesmo acontece com os grandes craques. Eles realizam jogadas surpreendentes, belíssimas, mas não sabem como e o porquê. Há um saber que antecede o pensamento e o raciocínio lógico.
Numa fração de segundos, o craque percebe os movimentos e a posição do corpo dos companheiros e dos adversários, calcula a velocidade e a trajetória da bola, sabe o ponto exato em que ela vai chegar e decide o que fazer. Tudo isso sem pensar.
Pelé, com os seus olhos expressivos e salientes, mapeava numa fração de segundos tudo que estava perto. Antes de a bola chegar, já sabia o que iria acontecer. Olhava-me com tanta firmeza que tinha certeza de que queria me dizer o que faria e o que gostaria que eu fizesse. Tentava acompanhá-lo.
É a comunicação analógica, não-verbal, intuitiva, menos exata, porém muito mais rica e verdadeira do que a digital, com palavras. Os humanos começaram a mentir depois que aprenderam a falar.
Os cientistas diriam que o craque tem uma habilidade visual maior do que os outros. Enxerga um número maior de detalhes e processa mais rapidamente as informações no cérebro.
A anatomia do olho também contribui para isso. O campo visual de alguns jogadores é maior do que o de outros. Isso ajuda o atleta a dominar, driblar, passar, finalizar, sem olhar para a bola. Os especialistas falam que essa visão pode ser ampliada com exercícios específicos. Será que no futuro os oftalmologistas farão parte das comissões técnicas?
Alex pode não ser o melhor jogador brasileiro, mas é o que pensa mais rápido e que tem maior visão de jogo. Parece que ele possui um terceiro olho atrás da cabeça, com uma visão de 360 graus.
Por que Dida defende tantos pênaltis? Não acho que seja somente porque ele é grande, tem muita agilidade e dá sorte na escolha do canto, já que é impossível saltar após a bola ser bem chutada no canto e defendê-la.
Estudo científico realizado na Inglaterra mostrou que existe uma clara relação entre a maneira de o atleta correr para a bola, a posição do corpo no momento da cobrança do pênalti e o local exato em que a bola vai ser chutada. É óbvio.
Imagino que o craque Dida percebe tudo isso. Antevê o lance e sabe instantes antes da cobrança, pela posição do corpo do cobrador, aonde a bola vai chegar. Ele nega. Diz que escolhe um canto e salta. Será? Dida sabe, mas não sabe que sabe.

Até tu, Parreira!
A seleção brasileira não terá na Copa das Confederações os melhores jogadores que atuam na Europa. Também não terá os principais atletas de Santos, Cruzeiro e Flamengo, que disputam a Taça Libertadores da América e a Copa do Brasil, nem muitos jovens de talento que estarão na Copa Ouro, pela seleção pré-olímpica. Serão chamados também, no máximo, dois jogadores de cada equipe que disputa o Campeonato Brasileiro.
Com tantas limitações, será uma seleção totalmente desfigurada, com grande risco de prejudicar excelentes jogadores.
Os mais otimistas dirão que será uma oportunidade de alguns se destacarem e passarem a fazer parte do elenco que disputará as eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2006. Pode ser, mas é pouco provável.
Muitas equipes que disputam o Brasileiro serão bastante prejudicadas com a convocação de seus principais jogadores. A Copa das Confederações será ruim para os clubes, para o Campeonato Brasileiro, para os atletas europeus que estariam em férias e até para a seleção. Alguém vai lucrar. Não será o futebol brasileiro.
Imagino que o Eduardo Costa foi chamado muito mais por falta de opções do que pelas suas qualidades.
Por que o Juninho Pernambucano não foi convocado? Ele não quis porque está de férias ou Parreira não quis chamá-lo?
Se Kaká, Alex (do Santos), Robinho, Diego e Luisão vão para a seleção olímpica, por que Adriano, que tem menos de 23 anos, foi convocado para a seleção principal? Será que ele vai atuar na Copa das Confederações e na Copa Ouro?
Nada disso foi esclarecido. Parreira disse que não tem de dar explicações. Até tu, Parreira!

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tostao.folha@uol.com.br


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