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análise
Teixeira é o grande vencedor
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Nunca um dirigente esportivo reuniu tanto poder no
país como o mineiro Ricardo
Terra Teixeira, presidente da
CBF e chefe do comitê organizador da Copa-2014.
O evento de ontem no paraíso fiscal das Bahamas consagrou o triunfo do ex-genro
de João Havelange. Teixeira
é o grande vencedor dos embates pelo poder no esporte
travados nos últimos anos.
De cartola investigado no
Congresso e personagem de
escândalos, ele se transformou no condestável ao qual
se submetem cartolas, entidades, governos e instituições das mais diversas. Enquanto o esticamento dos
mandatos de presidentes como Lula e Chávez acalora debates, a pouca gente chocam
os 20 anos que Teixeira acumula na CBF e os pelo menos
mais cinco que planeja ficar.
Na era FHC, ele chegou a
ser confrontado pelo Ministério do Esporte comandado
por Pelé e Hélio Viana, dupla
de empresários que, contra
si, mantinha suspeição por
operar no setor que administrava. Hoje, o ministro Orlando Silva é incapaz de manifestar uma só restrição aos
atos e gestões da CBF e seu
mandatário. Contenta-se em
aplaudir. Pelé se aliou ao ex-desafeto. Lula fustigava em
tempos idos a estrutura do
futebol profissional. Agora,
empenha-se em evitar confrontos, rusgas, ruídos com
Teixeira. Parece temê-lo.
A CBF financia campanhas eleitorais. Parlamentares blindam a entidade.
A submissão generalizada
ao dono da bola no Brasil e
postulante promissor à presidência da Fifa alcança o
jornalismo. Mesmo segmentos que outrora esboçaram
espírito crítico aderiram sem
pudor à bajulação. Independentes como Juca Kfouri e
José Trajano formam na minoria da imprensa.
O futebol não é pior nem
melhor que o país. Espelha-o, sintetiza-o e o metaforiza.
O presidente do Congresso é
José Sarney. Uma Sarney governa o Maranhão. Será o clã
Sarney mais generoso com a
nação que Ricardo Teixeira?
A Copa de 2014 consolida a
ordem em que o futebol profissional se estabelece no
Brasil: é concentradora de
renda. A CBF, com a máquina de gerar dinheiro que é a
seleção, abarrota seus cofres.
Os clubes definham -muitos já teriam fechado, não
fosse a boa vontade do Estado na cobrança do que a lei
determina. A CBF escuda-se
na condição de agremiação
de direito privado para recusar controles como os obrigatórios sobre instituições
públicas. Privado também é
o comitê organizador, do
qual Teixeira fez de sua filha
um dos diretores.
O empreendimento privado da Copa, no entanto, não
vingaria sem uma enxurrada
de recursos dos contribuintes, como acontecerá na
construção e reconstrução
dos estádios. Os cidadãos,
por meio do Estado, bancam
a infra que permitirá lucrar
com o negócio vitaminado
pela paixão pelo futebol. No
Pan-2007, prometia-se um
legado que inexistiu.
Com a Copa pode ser diferente, por isso ela é uma
oportunidade que se fez bem
em buscar. Contudo 2014 deve ser instrumento para o
avanço do Brasil, e não do
progresso de apenas alguns,
em detrimento do país.
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