São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Teixeira é o grande vencedor

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Nunca um dirigente esportivo reuniu tanto poder no país como o mineiro Ricardo Terra Teixeira, presidente da CBF e chefe do comitê organizador da Copa-2014.
O evento de ontem no paraíso fiscal das Bahamas consagrou o triunfo do ex-genro de João Havelange. Teixeira é o grande vencedor dos embates pelo poder no esporte travados nos últimos anos.
De cartola investigado no Congresso e personagem de escândalos, ele se transformou no condestável ao qual se submetem cartolas, entidades, governos e instituições das mais diversas. Enquanto o esticamento dos mandatos de presidentes como Lula e Chávez acalora debates, a pouca gente chocam os 20 anos que Teixeira acumula na CBF e os pelo menos mais cinco que planeja ficar.
Na era FHC, ele chegou a ser confrontado pelo Ministério do Esporte comandado por Pelé e Hélio Viana, dupla de empresários que, contra si, mantinha suspeição por operar no setor que administrava. Hoje, o ministro Orlando Silva é incapaz de manifestar uma só restrição aos atos e gestões da CBF e seu mandatário. Contenta-se em aplaudir. Pelé se aliou ao ex-desafeto. Lula fustigava em tempos idos a estrutura do futebol profissional. Agora, empenha-se em evitar confrontos, rusgas, ruídos com Teixeira. Parece temê-lo.
A CBF financia campanhas eleitorais. Parlamentares blindam a entidade.
A submissão generalizada ao dono da bola no Brasil e postulante promissor à presidência da Fifa alcança o jornalismo. Mesmo segmentos que outrora esboçaram espírito crítico aderiram sem pudor à bajulação. Independentes como Juca Kfouri e José Trajano formam na minoria da imprensa.
O futebol não é pior nem melhor que o país. Espelha-o, sintetiza-o e o metaforiza. O presidente do Congresso é José Sarney. Uma Sarney governa o Maranhão. Será o clã Sarney mais generoso com a nação que Ricardo Teixeira?
A Copa de 2014 consolida a ordem em que o futebol profissional se estabelece no Brasil: é concentradora de renda. A CBF, com a máquina de gerar dinheiro que é a seleção, abarrota seus cofres.
Os clubes definham -muitos já teriam fechado, não fosse a boa vontade do Estado na cobrança do que a lei determina. A CBF escuda-se na condição de agremiação de direito privado para recusar controles como os obrigatórios sobre instituições públicas. Privado também é o comitê organizador, do qual Teixeira fez de sua filha um dos diretores.
O empreendimento privado da Copa, no entanto, não vingaria sem uma enxurrada de recursos dos contribuintes, como acontecerá na construção e reconstrução dos estádios. Os cidadãos, por meio do Estado, bancam a infra que permitirá lucrar com o negócio vitaminado pela paixão pelo futebol. No Pan-2007, prometia-se um legado que inexistiu.
Com a Copa pode ser diferente, por isso ela é uma oportunidade que se fez bem em buscar. Contudo 2014 deve ser instrumento para o avanço do Brasil, e não do progresso de apenas alguns, em detrimento do país.


Texto Anterior: Para cartola, nenhuma sede está preparada
Próximo Texto: Palanque para políticos domina festas da vitória
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.