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Ídolos selam paz e inflamam torcida
Cumprimento do reserva Kahn ao titular Lehmann, antes dos pênaltis, acaba com rusga entre desafetos e une alemães
Gesto foi considerado vital
para o time ganhar moral
no momento decisivo, e técnico comparou a partida a um roteiro de Hitchcock
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Jens Lehmann certamente
não esperava aquele cumprimento. Enquanto descansava
no gramado antes dos pênaltis
que definiram a classificação
alemã para as semifinais da Copa do Mundo, ele recebeu a
abordagem de Oliver Kahn, seu
reserva e desafeto.
Melhor jogador do último
Mundial e eterno inconformado com o lugar no banco, o goleiro deixou a rusga de lado.
Com um aperto de mão, desejou sucesso ao compatriota.
Deu certo. Depois de tomar
um gol e assistir ao empate por
1 a 1 que perdurou no tempo
normal e na prorrogação, Lehmann defendeu as cobranças
de Ayala e Cambiasso.
O objetivo inicial dos anfitriões -chegar entre os quatro
primeiros do torneio- fora
atingido. No placar, 4 a 2.
"Sempre acreditamos na virada. Foi como em filmes do
Hitchcock, com muito drama e
tensão até o fim", definiu o treinador Jürgen Klinsmann.
A citação do cineasta inglês,
mestre do suspense e morto em
1980, não vale para indicar que
o futebol apresentado em campo tenha sido vistoso.
Ao contrário. Os próprios
atletas reconheceram que o
primeiro embate de campeões
desta Copa, do qual se esperava
ofensividade pelo que as seleções haviam apresentado, acabou sendo bastante truncado.
A modorra perdurou até Ayala, aos 4min da etapa final, após
escanteio, ganhar de cabeça de
Klose e fazer 1 a 0. Este último,
aliás, artilheiro da Copa, andava uma lástima. Sua equipe estava em desvantagem pela primeira vez neste Mundial, e ele
parecia não andar em sintonia
com seus companheiros.
Só que Klose justificou a fama de matador. Aos 35min, de
cabeça, anotou seu primeiro
tento em mata-matas de Copa
-os outros nove ocorreram na
fase de grupos de 2002 e desta
edição. "Sieg" [vitória], berrava
a torcida alemã, otimista com a
possibilidade de uma virada.
A partida, contudo, ficou novamente morna. A decisão rumou para os pênaltis.
Havia três bom motivos para
os alemães se animarem:
1) Abbondanzieri, goleiro titular argentino, havia deixado o
jogo contundido;
2) Maradona, que se auto-proclamava pé-quente da campanha de seu país, não comparecera ao estádio. Alegou que
um de seus acompanhantes
não recebera ingresso;
3) os hoje anfitriões nunca
perderam disputas do gênero
em Copas do Mundo -os três
triunfos ocorreram nas edições
de 1982, 1986 e 1990.
Mas o que arrancou aplausos
e devolveu o entusiasmo à torcida foi a cena de Kahn cumprimentando Lehmann, exibida
no telão. Parecia o fim de uma
crise iniciada por Klinsmann.
Em março, ele nomeou Lehmann titular. Queria pôr fim
numa disputa que dividia o
país. Kahn não aceitou, afirmou que merecia a camisa 1 e
manteve a cara fechada.
"Não é a vitória de minha decisão pessoal. Os ganhadores
hoje são, ao mesmo tempo,
Kahn, Lehmann e toda a equipe, incluindo os jogadores do
banco", afirmou Klinsmann.
Lehmann demonstrou pensar da mesma forma. Após defender a última cobrança, seguiu até o local onde estava
Kahn. Devolveu o cumprimento e foi para o vestiário. Perdeu,
assim, a festa que seu treinador
e colegas fizeram pelo triunfo.
O ponto alto ocorreu quando
o sistema de som do estádio começou a tocar a canção italiana
"Volare Cantare?". O conhecido refrão "volare, oh, oh, cantare, oh, oh, oh, oh", foi adaptado
pelos torcedores para "finale,
oh, oh, finale, oh, oh, oh, oh".
A final ocorre em Berlim, no
dia 9. Antes, porém, os alemães
precisam passar pelas semifinais. O adversário: a Itália.
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