São Paulo, sábado, 01 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ídolos selam paz e inflamam torcida

Cumprimento do reserva Kahn ao titular Lehmann, antes dos pênaltis, acaba com rusga entre desafetos e une alemães

Gesto foi considerado vital para o time ganhar moral no momento decisivo, e técnico comparou a partida a um roteiro de Hitchcock


GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Jens Lehmann certamente não esperava aquele cumprimento. Enquanto descansava no gramado antes dos pênaltis que definiram a classificação alemã para as semifinais da Copa do Mundo, ele recebeu a abordagem de Oliver Kahn, seu reserva e desafeto.
Melhor jogador do último Mundial e eterno inconformado com o lugar no banco, o goleiro deixou a rusga de lado. Com um aperto de mão, desejou sucesso ao compatriota.
Deu certo. Depois de tomar um gol e assistir ao empate por 1 a 1 que perdurou no tempo normal e na prorrogação, Lehmann defendeu as cobranças de Ayala e Cambiasso.
O objetivo inicial dos anfitriões -chegar entre os quatro primeiros do torneio- fora atingido. No placar, 4 a 2.
"Sempre acreditamos na virada. Foi como em filmes do Hitchcock, com muito drama e tensão até o fim", definiu o treinador Jürgen Klinsmann.
A citação do cineasta inglês, mestre do suspense e morto em 1980, não vale para indicar que o futebol apresentado em campo tenha sido vistoso.
Ao contrário. Os próprios atletas reconheceram que o primeiro embate de campeões desta Copa, do qual se esperava ofensividade pelo que as seleções haviam apresentado, acabou sendo bastante truncado.
A modorra perdurou até Ayala, aos 4min da etapa final, após escanteio, ganhar de cabeça de Klose e fazer 1 a 0. Este último, aliás, artilheiro da Copa, andava uma lástima. Sua equipe estava em desvantagem pela primeira vez neste Mundial, e ele parecia não andar em sintonia com seus companheiros.
Só que Klose justificou a fama de matador. Aos 35min, de cabeça, anotou seu primeiro tento em mata-matas de Copa -os outros nove ocorreram na fase de grupos de 2002 e desta edição. "Sieg" [vitória], berrava a torcida alemã, otimista com a possibilidade de uma virada.
A partida, contudo, ficou novamente morna. A decisão rumou para os pênaltis.
Havia três bom motivos para os alemães se animarem:
1) Abbondanzieri, goleiro titular argentino, havia deixado o jogo contundido;
2) Maradona, que se auto-proclamava pé-quente da campanha de seu país, não comparecera ao estádio. Alegou que um de seus acompanhantes não recebera ingresso;
3) os hoje anfitriões nunca perderam disputas do gênero em Copas do Mundo -os três triunfos ocorreram nas edições de 1982, 1986 e 1990.
Mas o que arrancou aplausos e devolveu o entusiasmo à torcida foi a cena de Kahn cumprimentando Lehmann, exibida no telão. Parecia o fim de uma crise iniciada por Klinsmann.
Em março, ele nomeou Lehmann titular. Queria pôr fim numa disputa que dividia o país. Kahn não aceitou, afirmou que merecia a camisa 1 e manteve a cara fechada.
"Não é a vitória de minha decisão pessoal. Os ganhadores hoje são, ao mesmo tempo, Kahn, Lehmann e toda a equipe, incluindo os jogadores do banco", afirmou Klinsmann.
Lehmann demonstrou pensar da mesma forma. Após defender a última cobrança, seguiu até o local onde estava Kahn. Devolveu o cumprimento e foi para o vestiário. Perdeu, assim, a festa que seu treinador e colegas fizeram pelo triunfo.
O ponto alto ocorreu quando o sistema de som do estádio começou a tocar a canção italiana "Volare Cantare?". O conhecido refrão "volare, oh, oh, cantare, oh, oh, oh, oh", foi adaptado pelos torcedores para "finale, oh, oh, finale, oh, oh, oh, oh".
A final ocorre em Berlim, no dia 9. Antes, porém, os alemães precisam passar pelas semifinais. O adversário: a Itália.


Texto Anterior: José Roberto Torero: A hora da vingança!
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.