São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

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Espanha e Euro-08 valorizam técnica dos "baixinhos"

Xavi, que com 1,70 m é o símbolo da seleção campeã do torneio, é eleito o melhor jogador da competição pela Uefa

Estatística confirma a boa qualidade do jogo espanhol, e a seleção dos melhores da disputa mostra que, agora, tamanho não é documento

Diego Tuson/France Presse
Atletas da seleção espanhola, campeões da Eurocopa anteontem, em Viena, com vitória sobre a Alemanha, desfilam em um ônibus pelas ruas de Madri em festa

RENAN CACIOLI
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Xavi, oficialmente o melhor jogador da Eurocopa-2008, é o símbolo do torneio, da campeã Espanha e do futebol atual: baixinho, leve, jovem e técnico.
Já imaginou um meio-campo habilidoso e criativo com Xavi, Iniesta, Sneijder e Fàbregas? Já sonhou com uma dupla de ataque formada pelos ágeis e inteligentes Arshavin e David Villa?
Esse meio-campo teria três jogadores de 1,70 m e um de 1,77 m. Esse ataque contaria com grandes jogadores de 1,73 m e 1,75 m. Todos estão na lista da Uefa que traz os 23 melhores jogadores do torneio. Casillas, goleiro espanhol de 1,85 m, poderia estar na ""seleção ideal".
Compondo uma linha de quatro na defesa, não haveria nessa suposta equipe-base ninguém com mais de 1,83 m (que contaria com o excelente lateral alemão Lahm, de 1,70 m). O que pintou como melhor da Euro-08 tem muito mais a ver com talento do que com o físico, algo que difere do que foi visto na Copa (Itália campeã) e na Euro (Grécia) anteriores.
O legado espanhol de um futebol vistoso e de toque de bola nesta Euro resiste às comparações estatísticas com as últimas seleções campeãs de grandes torneios e ganha respaldo nos números oficiais da Uefa.
Ninguém passou mais e melhor que a Espanha no torneio. Ninguém finalizou e atacou tanto, seja pela direita (7,3 ataques por jogo), seja pela esquerda (6,8 por partida).
O time do técnico Luis Aragonés teve o melhor ataque (12 gols) da disputa e, na média, a melhor defesa (foram três gols sofridos em seis jogos, um deles quando a Espanha atuou com reservas). Time entre os mais disciplinados, sem ninguém expulso e sem levar nem dois cartões amarelos por jogo (em média), a Espanha pouco cruza.
Não é à toa que Franz Beckenbauer, maior ídolo do país vice-campeão, disse que ""o melhor time ganhou a Europa" e que Joachim Löw, o técnico atual da Alemanha, falou que ""a Espanha mereceu vencer".
Em 2004, a Grécia conquistou a Eurocopa à custa de uma defesa poderosa e um esquema pouco atraente, que privilegiava as jogadas de bola parada e posteriores cabeceios. No chão, a bola não era bem tratada.
Nesta edição, Casillas não foi muito acionado -é o goleiro que menos fez defesas em média por partida (1,67). Mesmo com um meio-campo criativo, a Espanha se defendeu bem, portanto. Em posse de bola, a equipe (53,6% do tempo) só perdeu em média na Euro para Holanda e Portugal, outras equipes que trabalhar bem as jogadas.
Comparando a Espanha com a seleção de Dunga, que costuma usar três volantes de características defensivas e um armador que já foi volante (Júlio Baptista), percebe-se grande diferença nos passes. Se a Espanha dá 569 passes numa partida, o Brasil dá apenas 372.
Esses números brasileiros são em jogos pelas eliminatórias. O time de Dunga cruza mais (15 vezes por jogo) e finaliza mais (24,7 vezes) que a Espanha, mas pratica bem menos o fundamento básico, o passe.
Como o atual campeão europeu de clubes é o Manchester United, que tem do meio para a frente atletas de pouca estatura e grande técnica, como Rooney, Tevez, Park e Scholes, parece que o momento é mesmo dos "nanicos" bons de bola.


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