São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

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JOSÉ ROBERTO TORERO

O "W" da questão

Num rápido olhar pela Série A do Brasileiro, é possível ver a colonização cultural no nome e o tempero que se dá a ela

UMA DAS COISAS mais chatas de ser colonizado culturalmente é ter que aprender a língua do colonizador. Isso é realmente boring. Ainda mais para mim, que não understendo a língua inglesa muito well. No caso do futebol, essa colonização é ainda mais strong.
Quando Charles Miller voltou da Inglaterra, trouxe na bagagem dois jogos de uniformes, duas bolas de couro, uma bomba de ar e várias palavras, como corner, goal-keeper, center-forward e penalty, que viraram escanteio, goleiro, centroavante e..., bom, pênalti não ficou muito diferente.
Mas, today em day, até nos nomes dos jogadores a influência da língua inglesa (ou norte-americana) se faz presente. Hoje, se quisermos fazer uma seleção apenas com atletas com nomes anglo-saxões na Série A do Brasileiro, é moleza. Digo, soft.
No gol, teríamos o veterano Harlei (sem o y), do Goiás, que talvez tenha sido batizado assim porque seu pai era fanático pelas motos Harley-Davidson. Na lateral direita, teríamos Jonathan, do Cuzeiro. Na zaga, o palmeirense Gladstone e Hallison, da Portuguesa. E, na lateral esquerda, Michael, do Atlético-PR, ou Jefferson, do Palmeiras.
Para a posição de center-half, digo, volante, há muitas opções: Erick, Everton, Charles, Max, Christian e Jackson, do Ipatinga. Outro Jackson, do Vitória, poderia ficar na meia, onde teria a companhia de Franklin, do Figueirense.
No ataque, teríamos Christian, da Portuguesa, e Michael, do Coritiba. Mas tudo isso é fichinha se pensarmos nos jogadores que têm nomes começados em dábliu. O duplo vê, que foi abolido da língua pátria com o K (que sempre me pareceu um cara pronto para lutar caratê) e o Y (um elegante cálice), foi resgatado pelo povo e hoje pode ser visto aos montes pelos campos do Brasil.
Com adaptations, poderíamos fazer um time só com atletas cujos nomes comecem com W. A saber: Wilson (Figueirense); Williams (Vitória), William Magrão (Grêmio), William (Ipatinga) e Wellington (Náutico); Wallyson (Coritiba), Wellington Amorim (Figueirense), Wesley (Santos) e Wellington Paulista (Botafogo); Washington (Fluminense) e Weldon (Cruzeiro). O patrocínio, é claro, seria da W/Brasil.
Não quero que pensem que sou xenófobo, alguém que não aceita as palavras estrangeiras. Não sou crazy assim. Sei que culturas se misturam, e palavras vão para lá e para cá feito imigrantes ilegais. Mas há que se apropriar delas, e não o contrário.
Hoje, qualquer reunião de escritório usa tantas palavras em inglês que há quem não saia de casa sem um Michaelis pocket, que dizer, de bolso. Temos que pegar as palavras estrangeiras, temperá-las com dendê, coentro, pequi e, aí sim, engoli-las. Há que fazer como abat-jour, que virou o simpático e brasileiro abajur. E há que escrever saite em vez de site (sítio é "chácara", não vale).
De certa forma, alguns nomes de jogadores já têm esse tempero. Keirrison, o bom atacante do Coritiba, é um exemplo. Duvido que haja outros por aí (ou melhor, por lá). Richarlyson, o volante-lateral do São Paulo, foi uma invenção feliz. Mas talvez o melhor de todos seja o lateral-esquerdo do Fluminense: Uendel. Sem "w". Só com um simples e objetivo "u". De único e universal.


torero@uol.com.br

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