São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2010

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África do Sul teme uma nova onda de xenofobia

Estrangeiros relatam ameaças, e ONG lança alerta sobre risco de violência

DAS ENVIADAS A JOHANNESBURGO

Agora que a Copa entra na sua fase mais legal, a África do Sul começa a dar sinais de que já está em uma ressaca.
"A Fundação Nelson Mandela está preocupada com os rumores que vêm aflorando sobre sentimentos negativos em relação aos não-nacionais na África do Sul. Como Mandela disse uma vez: "Não podemos culpar outros povos por nossos problemas'", avisou anteontem a mais respeitada ONG do país, diretamente ligada ao ex-presidente Nelson Mandela.
A Fifa entrou na onda e anunciou que os jogos das quartas de final, amanhã e sábado, serão usados como "plataforma para deixar clara a unidade do futebol contra o racismo e outras formas de discriminação".
A última grande manifestação de xenofobia na África do Sul, em maio de 2008, terminou com um saldo de 62 mortos -o retrato mais famoso do episódio é o de um moçambicano queimado vivo por seus vizinhos em uma favela de Johannesburgo.
Nas cidades-sede da Copa, um carimbo preto já se infiltra na paisagem, sobre placas de trânsito, outdoors e paredes: "Não à Xenofobia!". Nas favelas, refugiados zimbabuanos relatam ameaças de gangues. "Dizem que, se não sumirmos até o fim da Copa, vão pôr fogo em todos", fala o mecânico e pintor Nicholas Lemoni, 29, em Johannesburgo há sete anos.
Em Durban, onde fica o maior porto da África do Sul, uma manifestação está marcada para o próximo sábado às 15h, na frente da prefeitura: "Xenofobia nunca mais!".
O pesquisador Patrick Bond, do Centro para a Sociedade Civil da Universidade de KwaZulu-Natal, diz que o ódio aos estrangeiros aflora devido à crise econômica. Segundo Bond, em 2009 o país registrou o sumiço de 1 milhão de empregos. Neste ano, mais 150 mil já desapareceram. A mão de obra baratíssima dos refugiados é vista como concorrência desleal.
"O governo do Congresso Nacional Africano tentou esconder a crise econômica sob a euforia patriótica. Mas os Bafana Bafana caíram na primeira fase, os empregos temporários já começam a desaparecer, as cidades se perguntam o que farão com os elefantes brancos, que são os estádios suntuosos. O povo viu que foi enganado."
(LAURA CAPRIGLIONE E PAULA CESARINO COSTA)

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