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África do Sul teme uma nova onda de xenofobia
Estrangeiros relatam ameaças, e ONG lança alerta sobre risco de violência
DAS ENVIADAS A JOHANNESBURGO
Agora que a Copa entra na
sua fase mais legal, a África
do Sul começa a dar sinais de
que já está em uma ressaca.
"A Fundação Nelson Mandela está preocupada com os
rumores que vêm aflorando
sobre sentimentos negativos
em relação aos não-nacionais na África do Sul. Como
Mandela disse uma vez: "Não
podemos culpar outros povos por nossos problemas'",
avisou anteontem a mais respeitada ONG do país, diretamente ligada ao ex-presidente Nelson Mandela.
A Fifa entrou na onda e
anunciou que os jogos das
quartas de final, amanhã e
sábado, serão usados como
"plataforma para deixar clara a unidade do futebol contra o racismo e outras formas
de discriminação".
A última grande manifestação de xenofobia na África
do Sul, em maio de 2008, terminou com um saldo de 62
mortos -o retrato mais famoso do episódio é o de um
moçambicano queimado vivo por seus vizinhos em uma
favela de Johannesburgo.
Nas cidades-sede da Copa,
um carimbo preto já se infiltra na paisagem, sobre placas de trânsito, outdoors e
paredes: "Não à Xenofobia!".
Nas favelas, refugiados zimbabuanos relatam ameaças
de gangues. "Dizem que, se
não sumirmos até o fim da
Copa, vão pôr fogo em todos", fala o mecânico e pintor Nicholas Lemoni, 29, em
Johannesburgo há sete anos.
Em Durban, onde fica o
maior porto da África do Sul,
uma manifestação está marcada para o próximo sábado
às 15h, na frente da prefeitura: "Xenofobia nunca mais!".
O pesquisador Patrick
Bond, do Centro para a Sociedade Civil da Universidade
de KwaZulu-Natal, diz que o
ódio aos estrangeiros aflora
devido à crise econômica. Segundo Bond, em 2009 o país
registrou o sumiço de 1 milhão de empregos. Neste ano,
mais 150 mil já desapareceram. A mão de obra baratíssima dos refugiados é vista como concorrência desleal.
"O governo do Congresso
Nacional Africano tentou esconder a crise econômica sob
a euforia patriótica. Mas os
Bafana Bafana caíram na primeira fase, os empregos temporários já começam a desaparecer, as cidades se perguntam o que farão com os
elefantes brancos, que são os
estádios suntuosos. O povo
viu que foi enganado."
(LAURA CAPRIGLIONE E PAULA CESARINO COSTA)
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