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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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BOXE

Os recordes que não são

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Frequentemente , o americano Mike Tyson é lembrado como o mais jovem campeão dos pesos-pesados da história.
Isso é verdade? Tecnicamente, sim. Mas, ao mesmo tempo, esse é um exemplo de como a estrutura atual do esporte permite a produção de recordes dúbios.
Quer ver? Quando aplicou aquele impressionante nocaute sobre Trevor Berbick (três quedas com só um soco), em novembro de 1986, "Iron" Mike ganhou, aos 20 anos e cinco meses, o título do Conselho Mundial de Boxe. Somente um, dos três existentes.
Pior, nenhum dos outros dois campeões a quem Tyson bateu posteriormente, James "Quebra-ossos" Smith e Tony "TNT" Tucker, tampouco poderiam ser considerados campeões mundiais legítimos, mas só os campeões da Associação Mundial de Boxe e da Federação Internacional de Boxe.
É que Michael "Spinks Jinx" Spinks, o campeão linear (ou seja, que havia batido Larri Holmes, e assim uma linha poderia ser traçada até o primeiro campeão), havia sido destituído de seu cinturão no tapetão. Para muitos, ele seguia como o real campeão.
Diante do clamor público, um combate entre os dois ocorreu em 27 de junho de 1988. Tyson venceu Spinks, mas já tinha 22 anos.
Era, portanto, mais velho do que Floyd Patterson quando este bateu Archie Moore e se tornou campeão -Patterson tinha 21.
Para mim, legalmente, Tyson quebrou o recorde de Patterson. Moralmente, não.
Como comparação: legalmente, Luciano "Todo Duro" Torres, e não Popó, foi o terceiro brasileiro campeão mundial ao bater o americano Tim Johnson pelo título da irrelevante Federação Mundial de Boxe, em apresentação patética, em novembro de 1993.
Sim, afinal, a FMB é uma entidade legalmente estabelecida. Assim, parafraseando nosso presidente, ficou nas mãos do público fazer o título do pernambucano "pegar" ou "não pegar".
Felizmente, o povo tomou a decisão correta ao ignorá-lo.
Mais recentemente, o norte-americano Bernard Hopkins comemorou o fato de ter batido o recorde de defesas de título dos médios, 14, que estava em poder do argentino Carlos Monzón.
De novo, legalmente o recorde do norte-americano Hopkins é legítimo. Mas, moralmente, não.
O fato é que ele defendeu por 15 vezes apenas o título da FIB, contra desafiantes regulares. Hopkins ainda não tinha em seu poder os cinturões do CMB e AMB.
Até 2001, quando venceu os co-campeões Keith Holmes e Félix Trinidad, Hopkins não havia batido os demais superstars de sua categoria, o que dilui seu feito.
Monzón, por outro lado, pegou os melhores pugilistas disponíveis em sua época, anterior à multiplicação de títulos. Quem hoje seria campeão por uma das três ou quatro versões, à época não tinha outra saída senão enfrentá-lo.
E o que dizer de "Sugar" Ray Leonard e Oscar de la Hoya, que se dizem campeões em diversas categorias de peso? Sim, ambos são lutadores excepcionais, mas eles enfrentaram o melhor que cada categoria tinha a oferecer? É só verificar seus cartéis: não.

Inatividade 1
Lennox Lewis não causou surpresa ao declarar que pretende se aposentar em breve. Com vitórias sobre Mike Tyson, Evander Holyfield e, mais recentemente, contra Vitali Klitschko, ele mostrou que não tem mais nada a provar sobre sua capacidade e que atualmente é o melhor entre os pesos-pesados. Lewis ainda mencionou uma possível revanche com Klitschko, mas depois questionou o apelo de tal combate ao prever que derrotaria com facilidade o desafiante.

Inatividade 2
O armênio naturalizado brasileiro José Archak volta ao ginásio neste mês pela primeira vez desde que quebrou a mão durante luta com o brasileiro ""Snoopy" Rodriguez, em 3 de maio, nos EUA. O invicto Archak é contratado da empresa de lutas americana Main Events.

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