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BOXE
Os recordes que não são
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Frequentemente , o americano Mike Tyson é lembrado
como o mais jovem campeão dos
pesos-pesados da história.
Isso é verdade? Tecnicamente,
sim. Mas, ao mesmo tempo, esse é
um exemplo de como a estrutura
atual do esporte permite a produção de recordes dúbios.
Quer ver? Quando aplicou
aquele impressionante nocaute
sobre Trevor Berbick (três quedas
com só um soco), em novembro
de 1986, "Iron" Mike ganhou, aos
20 anos e cinco meses, o título do
Conselho Mundial de Boxe. Somente um, dos três existentes.
Pior, nenhum dos outros dois
campeões a quem Tyson bateu
posteriormente, James "Quebra-ossos" Smith e Tony "TNT" Tucker, tampouco poderiam ser considerados campeões mundiais legítimos, mas só os campeões da
Associação Mundial de Boxe e da
Federação Internacional de Boxe.
É que Michael "Spinks Jinx"
Spinks, o campeão linear (ou seja,
que havia batido Larri Holmes, e
assim uma linha poderia ser traçada até o primeiro campeão),
havia sido destituído de seu cinturão no tapetão. Para muitos, ele
seguia como o real campeão.
Diante do clamor público, um
combate entre os dois ocorreu em
27 de junho de 1988. Tyson venceu Spinks, mas já tinha 22 anos.
Era, portanto, mais velho do
que Floyd Patterson quando este
bateu Archie Moore e se tornou
campeão -Patterson tinha 21.
Para mim, legalmente, Tyson
quebrou o recorde de Patterson.
Moralmente, não.
Como comparação: legalmente,
Luciano "Todo Duro" Torres, e
não Popó, foi o terceiro brasileiro
campeão mundial ao bater o
americano Tim Johnson pelo título da irrelevante Federação Mundial de Boxe, em apresentação
patética, em novembro de 1993.
Sim, afinal, a FMB é uma entidade legalmente estabelecida. Assim, parafraseando nosso presidente, ficou nas mãos do público
fazer o título do pernambucano
"pegar" ou "não pegar".
Felizmente, o povo tomou a decisão correta ao ignorá-lo.
Mais recentemente, o norte-americano Bernard Hopkins comemorou o fato de ter batido o
recorde de defesas de título dos
médios, 14, que estava em poder
do argentino Carlos Monzón.
De novo, legalmente o recorde
do norte-americano Hopkins é legítimo. Mas, moralmente, não.
O fato é que ele defendeu por 15
vezes apenas o título da FIB, contra desafiantes regulares. Hopkins ainda não tinha em seu poder os cinturões do CMB e AMB.
Até 2001, quando venceu os co-campeões Keith Holmes e Félix
Trinidad, Hopkins não havia batido os demais superstars de sua
categoria, o que dilui seu feito.
Monzón, por outro lado, pegou
os melhores pugilistas disponíveis
em sua época, anterior à multiplicação de títulos. Quem hoje seria
campeão por uma das três ou
quatro versões, à época não tinha
outra saída senão enfrentá-lo.
E o que dizer de "Sugar" Ray
Leonard e Oscar de la Hoya, que
se dizem campeões em diversas
categorias de peso? Sim, ambos
são lutadores excepcionais, mas
eles enfrentaram o melhor que
cada categoria tinha a oferecer? É
só verificar seus cartéis: não.
Inatividade 1
Lennox Lewis não causou surpresa ao declarar que pretende se aposentar em breve. Com vitórias sobre Mike Tyson, Evander Holyfield
e, mais recentemente, contra Vitali Klitschko, ele mostrou que não
tem mais nada a provar sobre sua capacidade e que atualmente é o
melhor entre os pesos-pesados. Lewis ainda mencionou uma possível revanche com Klitschko, mas depois questionou o apelo de tal
combate ao prever que derrotaria com facilidade o desafiante.
Inatividade 2
O armênio naturalizado brasileiro José Archak volta ao ginásio neste
mês pela primeira vez desde que quebrou a mão durante luta com o
brasileiro ""Snoopy" Rodriguez, em 3 de maio, nos EUA. O invicto
Archak é contratado da empresa de lutas americana Main Events.
E-mail eohata@folhasp.com.br
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