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MELCHIADES FILHO
O dente do juízo
Colunista emenda dentista
com ginásio e constata que,
apesar da crise gravíssima, o
basquete sorri como nunca
TIREI O SISO e fui ver a seleção
jogar. Cheguei com duas horas de antecedência. A garotada já fazia fila no portão. Nas mãos
dela, sacos de feijão, arroz, açúcar e
farinha -o preço do ingresso. Nas
minhas, um saco com pedras de gelo, para conter o queixo.
A bochecha formigava à medida
que a anestesia se esgotava. O rombo
na arcada gorgolava sangue de gosto
ruim. A gaze que devia estancá-lo só
fazia arranhar a garganta.
Situação perfeita para sofrer com
o time que não se classificou às duas
últimas Olimpíadas, para chorar a
decadência do basquete nacional.
Mas, para meu espanto, as instalações precárias em que fomos espremidos pareceram aconchegantes.
O sistema de som tocava hits de
uma banda grisalha. Barão Vermelho, Capital Inicial, algo do gênero. O
clima, porém, não tinha nada de retrô. O predomínio de adolescentes
na arquibancada não permitia.
Um tiozinho trocou de camisa,
sem cerimônia, no meio da torcida.
Ninguém questionou a má educação
ou o desodorante vencido.
Atrás de mim, cinco meninos neozelandeses gritaram "yeah!" e fizeram uma "ola" quando ganharam do
pai um balde de minipães-de-queijo.
Esperei os palavrões. A galera não
esboçou nem um básico "senta!" em
reprimenda. "Que bonitinhos!", ouvi. "Como são loirinhos!"
O presidente da confederação sorria enquanto matava tempo na quadra. Os atletas se divertiam com o
"tira-uma-foto-comigo-no-celular?". A paciência de Leandrinho, o
mais requisitado, não tinha limite.
Vi teens invocados, que metem o
pau na blogosfera, se derreterem na
fila que acabava no técnico Lula.
As garotas cercavam Marcus Vinícius e Jhonatan, jovens que não emplacaram o grupo do Mundial. Ambos tentavam resistir. Mas nenhum
esporte reúne groupies tão maravilhosas. Ninguém é de ferro. Até repórter do Sportv dava autógrafo.
O mestre de cerimônias chamou
os atletas mesclando inglês ao português ("Número six: Marcelo
Huertas"). Todos relevaram.
Jogo iniciado, o Brasil reincidiu
nas falhas de sempre: marcação passiva da linha de três, falta de opções
de jogo sob a cesta (Splitter no high
post!), transição deficiente ataque-defesa (desbalanço numérico na
quadra) e desatenção nas rotações e
nos rebotes defensivos.
Algo estava diferente, porém.
Achei ter visto uma evolução, ainda
que pequena, em todos esses aspectos. Íamos bem nas infiltrações, na
transição defesa-ataque e no rebote
ofensivo. A escolha de chutes ficara
mais criteriosa. O time não estava
mais tão previsível, uma surpresa.
Do lado de fora, treinadores e veteranos aplaudiam. Se o Nenê não
vem, tudo bem, afirmavam em coro.
Enquanto eu mastigava um analgésico, o ginásio ruminava felicidade. Agora só falta o Zagallo, pensei.
Talvez tenha ingerido paracetamol
demais. Talvez o boticão tenha me
custado mais do que o dente.
AMÁLGAMA 1
Os melhores do Mundial-02 (Argentina, Sérvia, Alemanha e Nova
Zelândia) decaíram. O Leste Europeu levará seleções renovadas. Mas
o Mundial não será sopa. Os hermanos ainda têm um timaço, os
EUA juntaram um elenco e um técnico fabulosos, França e Espanha
se reforçaram, e Grécia e Turquia
ganharam entrosamento. Mas dá
para encarar quase todo mundo.
AMÁLGAMA 2
A CBB, submissa à televisão, ainda
não divulgou o horário. Mas o torcedor já pode se programar. O Brasil fará os dois primeiros jogos do
Mundial feminino de São Paulo às
15h15 (de Brasília). Ingressos pelo
site www.ingressofacil.com.br.
AMÁLGAMA 3
No melk.blog.uol.com.br, a versão estendida desta coluna.
melk@uol.com.br
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