São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiro gringo seca o Mundial

Promessa que mora nos EUA e não integra a seleção cria movimento e torce para ninguém copiá-lo

Pioneiro da ginástica brasileira em Olimpíadas, pai de Daniel Ribeiro, 18, põe vídeo do filho em ação na internet e leva bronca

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Começa hoje em Stuttgart (ALE) o maior Mundial de ginástica artística da história, com a presença de 551 ginastas. E o Brasil, que estréia amanhã, também ostenta número recorde de participantes: 14.
Mas, apesar de o país folgar neste primeiro dia do evento, um brasileiro, bem longe da cidade alemã, seguirá todo o torneio para verificar se ninguém irá lhe tirar a autoria de um movimento inédito na ginástica.
Daniel Ribeiro, 18, não integra a seleção, nunca disputou o Brasileiro e jamais atuou com Diego Hypólito e cia. O ginasta vive desde que nasceu em Nova Jersey. Mas protagoniza nos EUA os maiores arroubos de crítica desde a série de Daiane dos Santos, com o duplo twist carpado, em Anaheim-2003.
Isso porque o ginasta, filho de João Luis Ribeiro, o primeiro brasileiro a atuar na modalidade no torneio olímpico, em Moscou-1980, é autor de movimento pioneiro no cavalo com alças, o qual consiste num giro de 480, com o apoio de apenas uma mão sobre uma das alças.
"Eu penso coisas novas e, depois, tento executá-las. Tenho facilidade no cavalo com alças, por isso não foi difícil fazer o movimento. E os meus pulsos são muito flexíveis, o que me permite executar elementos que a maioria não consegue."
A preocupação de que o movimento seja copiado deve-se ao fato de seu pai ter posto no site YouTube, desde dezembro de 2006, exibição do ginasta no Nacional Júnior dos EUA -ele é o atual campeão do aparelho.
"Ele ficou bravo, mas o vídeo não chama a atenção por ele ainda não ter fama internacional", diz João Luis.
Segundo Daniel, o movimento tem dado frutos. O primeiro deles, notas altas -já tirou 9,90 (em 2005, na regra antiga, quando o topo era 10).
O segundo, o fato de ter atuado na Winter Cup (EUA), que reúne ginastas com novos elementos -ele foi o único brasileiro. Terceiro, por ter conseguido bolsa de mais de US$ 100 mil na Universidade de Illinois.
Com 18 anos e sem falar português, Daniel sonha em ir ao Mundial e à Olimpíada -eventos em que, ao lado da finalíssima da Copa do Mundo, novas acrobacias ganham o nome do autor-, seja por Brasil ou EUA.
"Se alguém o fizer no Mundial, merece o ter o nome no código de pontuação, pela dificuldade do movimento [a mais alta]. Mas é injusto poder batizar habilidade só nesses torneios."
Até hoje só Daiane ("Dos Santos") e Diego ("Hypólito") conseguiram o feito. Não é raro um atleta criar o elemento e outro batizá-lo. "Ocorreu com o "Tsukahara", que foi criado por um russo, mas o japonês apresentou antes", diz João.
E, para consagrar o "Ribeiro" pelo Brasil, Daniel terá que vir mais ao país, o qual visitou em dezembro, após 12 anos. "Para estar na seleção, há requisitos. Um é atuar no Brasileiro", diz Eliane Martins, supervisora da confederação de ginástica.
Com 1,72 m e 76 kg, Daniel brilha em um aparelho que é o calcanhar-de-Aquiles do Brasil - foi nele em que o país somou menos pontos no Mundial de Aarhus-06 e no Pan-07.
"Ele tem potencial, mas precisa aprimorar outros aparelhos", diz o técnico Raimundo Blanco, da seleção, que avaliou o atleta no final de 2006.

Texto Anterior: Brasil: País avança, em 4º, à final do 4 x 100 m
Próximo Texto: Depois do Pan, Brasil espera rigor em notas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.