São Paulo, quinta-feira, 01 de novembro de 2007

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análise

Nas nuvens e com os pés no chão

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Só faltou entrar aquela bola que Rogério Ceni chutou no travessão, ou então aquela que Sérvulo espalmou, para coroar a noite de glória tricolor. Não há como contestar: o São Paulo mereceu com folga o título conquistado ontem no Morumbi. Sua torcida pode comemorar a plenos pulmões.
Os números são eloqüentes. Com quatro rodadas de antecedência, o tricolor abriu uma vantagem abissal sobre os rivais.
Em 34 jogos, sofreu apenas 13 gols. Seu saldo, salvo engano o maior dos últimos anos, é de nada menos que 38. Tem quatro vitórias a mais que seu perseguidor mais próximo.
A nós que não somos são-paulinos só resta espernear em vão, dizendo que foi um campeonato medíocre, com escassos craques e futebol sem brilho. Isso é verdade, mas e daí? A culpa não é do São Paulo.
Está certo que o tricolor de 2007 não lembra nem de longe o esquadrão de Telê, com Raí, Leonardo, Palhinha e Cafu, nem o dos "menudos" campeões de 86 (Careca, Müller, Silas), mas é o que de melhor existe no país hoje.
Se o elenco não conta com craques reluzentes (com exceção de Rogério), tem ao menos um punhado de ótimos jogadores nos vários setores do campo: zagueiros como Breno, Miranda e Alex Silva, volantes como Hernanes (que golaço o de ontem!) e Richarlyson, meias como Souza, Leandro e Jorge Wagner, atacantes como Aloísio e Dagoberto.
Todos teriam lugar em qualquer clube do Brasil.
Talvez seja essa a principal lição do campeão: numa era marcada pelo êxodo de talentos, a melhor saída, se não a única, é manter os pés no chão.
Formar um elenco equilibrado e de qualidade e mantê-lo coeso sob o comando de um treinador competente e sério.
Essa não é uma idéia improvisada, sacada do bolso do colete. É uma política permanente no Morumbi. Cabe contrastá-la, por exemplo, com a espalhafatosa e suspeita aventura Corinthians-MSI, cujos efeitos negativos ainda não pararam de se fazer sentir.
Vale lembrar, a esse respeito, que o São Paulo não é apenas o campeão de 2007. Nos últimos dois anos, ao conquistar seu terceiro título mundial e, agora, o quinto nacional, o tricolor se consagrou como o maior vencedor entre os clubes brasileiros, liderando qualquer ranking sério que se faça.
Não por acaso, o símbolo maior desse time, por seu talento e liderança incontestes, é um signo de continuidade e persistência. Ele não chegou ao Morumbi ontem, por meio de uma contratação espetacular. Está lá desde o início da década passada, quando parecia condenado a ser eterno reserva de Zetti.
Saiu do banco para se tornar o maior goleiro artilheiro do mundo, além de um dos mais seguros. Estou falando de Rogério Ceni, é claro, o jogador que todo mundo -menos Dunga, ao que parece- gostaria de ter no seu time.
Cabe agora aos outros clubes abrir os olhos e se preparar com seriedade para os próximos anos, se eles não quiserem que o reinado tricolor prossiga indefinidamente.


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