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análise
Nas nuvens e com os pés no chão
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Só faltou entrar aquela
bola que Rogério Ceni
chutou no travessão, ou
então aquela que Sérvulo
espalmou, para coroar a
noite de glória tricolor.
Não há como contestar: o
São Paulo mereceu com
folga o título conquistado
ontem no Morumbi. Sua
torcida pode comemorar a
plenos pulmões.
Os números são eloqüentes. Com quatro rodadas de antecedência, o
tricolor abriu uma vantagem abissal sobre os rivais.
Em 34 jogos, sofreu apenas 13 gols. Seu saldo, salvo engano o maior dos últimos anos, é de nada menos que 38. Tem quatro vitórias a mais que seu perseguidor mais próximo.
A nós que não somos
são-paulinos só resta espernear em vão, dizendo
que foi um campeonato
medíocre, com escassos
craques e futebol sem brilho. Isso é verdade, mas e
daí? A culpa não é do São
Paulo.
Está certo que o tricolor
de 2007 não lembra nem
de longe o esquadrão de
Telê, com Raí, Leonardo,
Palhinha e Cafu, nem o
dos "menudos" campeões
de 86 (Careca, Müller, Silas), mas é o que de melhor
existe no país hoje.
Se o elenco não conta
com craques reluzentes
(com exceção de Rogério),
tem ao menos um punhado de ótimos jogadores
nos vários setores do campo: zagueiros como Breno,
Miranda e Alex Silva, volantes como Hernanes
(que golaço o de ontem!) e
Richarlyson, meias como
Souza, Leandro e Jorge
Wagner, atacantes como
Aloísio e Dagoberto.
Todos teriam lugar em
qualquer clube do Brasil.
Talvez seja essa a principal lição do campeão: numa era marcada pelo êxodo de talentos, a melhor
saída, se não a única, é
manter os pés no chão.
Formar um elenco equilibrado e de qualidade e
mantê-lo coeso sob o comando de um treinador
competente e sério.
Essa não é uma idéia improvisada, sacada do bolso
do colete. É uma política
permanente no Morumbi.
Cabe contrastá-la, por
exemplo, com a espalhafatosa e suspeita aventura
Corinthians-MSI, cujos
efeitos negativos ainda
não pararam de se fazer
sentir.
Vale lembrar, a esse respeito, que o São Paulo não
é apenas o campeão de
2007. Nos últimos dois
anos, ao conquistar seu
terceiro título mundial e,
agora, o quinto nacional, o
tricolor se consagrou como o maior vencedor entre os clubes brasileiros, liderando qualquer ranking
sério que se faça.
Não por acaso, o símbolo maior desse time, por
seu talento e liderança incontestes, é um signo de
continuidade e persistência. Ele não chegou ao Morumbi ontem, por meio de
uma contratação espetacular. Está lá desde o início
da década passada, quando parecia condenado a
ser eterno reserva de Zetti.
Saiu do banco para se
tornar o maior goleiro artilheiro do mundo, além
de um dos mais seguros.
Estou falando de Rogério
Ceni, é claro, o jogador que
todo mundo -menos
Dunga, ao que parece-
gostaria de ter no seu time.
Cabe agora aos outros
clubes abrir os olhos e se
preparar com seriedade
para os próximos anos, se
eles não quiserem que o
reinado tricolor prossiga
indefinidamente.
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