São Paulo, terça-feira, 01 de dezembro de 2009

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Plano para 2016 minimiza ouro

Em projetos apresentados ao COB, confederações priorizam aumento da base e mantêm pés no chão

Comitê, que decidirá nova distribuição de verba, havia orientado investimento em quem terá chance de ganhar medalha nos Jogos do Rio

JOSÉ EDUARDO MARTINS
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Comitê Olímpico Brasileiro deu o recado: o foco do investimento para 2016 tem de ser em quem terá chance de medalha na Olimpíada do Rio.
Mas, nos primeiros projetos visando os Jogos cariocas, que foram entregues ao COB ontem, as confederações esportivas mantiveram os pés no chão.
Mais: os planos da maior parte das entidades escancaram a limitação do esporte nacional e mostram que o sonho de ser potência ainda esbarra em problemas estruturais e de base.
Para muitas, antes de falar em subir ao pódio, suas modalidades carecem de massificação.
O tiro com arco, por exemplo, conseguiu neste ano quase dobrar o número de confederados -cerca de 700. Para chegar com competidores de bom nível a 2016, a entidade crê que precise ao menos triplicar o número nos próximos dois anos.
"Na Itália, há 22 mil atletas. Não há comparação. O Brasil está 30 anos atrasado", declara o italiano Eros Fauni, diretor técnico da confederação.
O hóquei na grama vive situação semelhante. Em 2007, no Rio, o Brasil fez sua estreia em Pans. Em 2016, pode disputar a sua primeira Olimpíada -por ser sede, o Brasil compete em todas as modalidades.
A confederação pretende chegar a uma medalha sul- -americana nos próximos anos e à vaga no Pan de 2011, ao menos para o masculino. Falar em pódio no Rio ainda é utopia.
"Queremos ir [ao Pan] não como convidados nem como saco de pancadas", afirma Eduardo Leonardo, coordenador técnico da confederação.
Até esportes já consagrados enxergam lacunas em sua divulgação pelo país. O vôlei manterá suas ações com as equipes de base e as seleções principais. Mas quer aumentar sua oferta de jogadores.
"Queremos preparar e orientar as federações do Brasil inteiro", afirma o presidente da CBV, Ary Graça Filho.
A natação planeja mapear os nadadores de todas as categorias de base para descobrir os talentos para 2016 e 2020.
Embora boa parte dos dirigentes afirme que os possíveis atletas de 2016 já estão "por aí", poucos se arriscam em apontar futuros medalhistas. Consideram precoce a pressão por investimentos tão específicos.
"Eles [Tiago Camilo e outros medalhistas olímpicos] são patrimônio e vamos seguir apostando neles. Em paralelo, trabalharemos centenas de atletas para buscar a medalha no Rio", diz Paulo Wanderley, presidente da confederação de judô.
"É tendência querer investir só em quem dará resultado, mas é preciso saber como fazer isso. Não vamos deixar o resto [que não tem chance de medalha em 2016] de lado. Temos de usar os atletas de Londres-2012 como espelho", faz coro João Tomasini, da canoagem.
Para algumas modalidades, é difícil estabelecer até faixas etárias para investimento.
Walter Boddener, coordenador técnico da confederação de vela, cita Fernanda Oliveira, bronze em Pequim-2008.
"Ela havia ficado nas últimas posições nas Olimpíadas anteriores [Sydney-2000 e Atenas-2004]. Por esse critério, não teria conquistado medalha de Pequim", afirma o dirigente.
O tiro pena com o amplo leque de potenciais competidores. "Temos atleta com até 93 anos. E ninguém vive do tiro no Brasil. É difícil fazer um medalhista com atleta de fim de semana", diz Frederico da Costa, presidente da confederação.
"O governo precisa investir em modalidades individuais, que dão muitas medalhas, como fez a China. E são essas confederações que estão sempre de cuia na mão", completa ele.
Já algumas entidades começam nesse ciclo projeto diferente do desenvolvido para Pequim. A ginástica, por exemplo, não tem mais o centro de treinamento e a concentração. Agora, cada atleta da seleção treina em seu próprio clube.


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