São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2007

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FÁBIO SEIXAS

Dick Vigarista versão 2.1

Bicampeão da F-1 e piloto a ser batido, Alonso é favorito a herdar fama de mau que por anos grudou em Schumacher

ESTÁ NO YouTube e, se você não viu, é só entrar no site e digitar "alonso", "badoer" e "crashing". Aconteceu na terça, em Valência, e foi flagrada por um câmera da Telecinco, da Espanha. Pronto. Em tempos de compartilhamento de tudo, ganhou o mundo.
É um vídeo curto, de 14 segundos. E que se resume no seguinte: Alonso vem com seu McLaren, encontra Badoer numa curva, não alivia, empurra a Ferrari para a caixa de brita. A última cena, o italiano parado, atolado, rodas trabalhando em falso. Fosse cinco anos atrás, o encontrão passaria despercebido. Provavelmente não saberíamos que aconteceu. E, se por acaso soubéssemos, não daríamos muita importância. Mas não, ocorreu agora. E esse "timing" merece duas considerações. A primeira tem a ver com fim da privacidade, aldeia global, sociedade do espetáculo, redes virtuais de relacionamento, megafluxos de informação, enfim, com a ciberfilosofia que cada vez mais deixa círculos acadêmicos e invade o nosso dia-a-dia.
Sendo curto e grosso, o resultado disso tudo no esporte, principalmente em um que exige dezenas de câmeras para ser compreendido, é que não dá mais para pisar na bola. Malandragens, "migués", trapaças, coações e agressões que antes eram captadas em vídeo e ficavam confinadas ao país natal do dono da imagem hoje ganham a internet minutos após serem levadas ao ar. Na prática, neste início de século 21 não existe mais esse "dono da imagem".
Jogue alguém para fora da pista, e a cena ganhará o YouTube. Faça um "brake test" e vire estrela do Google Video. Mostre um dedo para o retardatário e apareça no Yahoo Video. É aqui que entra a segunda consideração. Se você for o Nakajima ou o Rossiter, sua escorregada terá pouca repercussão. Se você for o Massa ou o Button, aparecerá em blog e sites por aí. Agora, se você for o Alonso, seu ato gerará reações indignadas, protestos furiosos... Você será comparado ao maior "malfeitor" das últimas décadas, um tal Schumacher. Exagero? Alguns dos comentários que acompanham o vídeo... "Ele acha que está dirigindo um tanque?" Ou "Alonso é um ególatra, um pedaço de lixo". Ou "Um estúpido". Ou "Maldito, não deveria estar na F-1".
É, com a aposentadoria do alemão, parece que vai sobrar para Alonso. Que, bicampeão mundial, é o novo parâmetro, o piloto a ser batido. Que já não é um primor de simpatia. Que, de quebra, ainda conta com esse adversário onipresente, casamento da TV com a internet. E que, para piorar, dá motivos ao azedume. No vídeo em questão, o espanhol exagera na dose. Só ele pode dizer no que estava pensando, mas nós podemos cravar que, ao menos, foi folgado, imprudente, espaçoso.
Sei não, mas neste imprevisível 2007 parece que já pintou o vilão do público. Mera implicância? Ou sinal de que para vencer na F-1 é preciso forçar a barra, mesmo que isso signifique aguentar as conseqüências?

CALMA LÁ...
Nos testes da semana em Valência, os primeiros com todo mundo de carro novo, Alonso foi o mais rápido em dois dias. Ontem, foi a vez de Ralf cravar o melhor tempo, resultado perfeito para exemplificar a (pouca) importância dos tempos a esta altura da pré-temporada.

CANSADO DO ÓCIO
A mensagem foi clara. Ao testar para a Tony Kart, Schumacher mostrou o quanto sente falta das pistas. O rumor é que em maio, lá mesmo em Muro Leccese, ele disputará a terceira etapa do WKS, campeonato de kart com chancela da FIA e corridas em três países.

ALELUIA
Rossi renovou com a Yamaha até o fim de 2008. Ótimo. Garantia de, pelo menos, mais duas temporadas de show nas provas de MotoGP.

fseixas@folhasp.com.br


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