São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Luz dá a largada a teen no Pan

Surda desde os 3 anos, a nadadora Marsha Watson, 17, representará Barbados nos Jogos do Rio

Como não pode ouvir o tiro, única mulher da equipe caribenha responde ao aviso de um sinal luminoso para se jogar na piscina

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos três anos, Marsha Watson se encantou com uma cena. Na TV, pessoas se jogavam na água azul e nadavam vertiginosamente de um lado a outro. Teve vontade de ser um deles.
A Olimpíada de Barcelona-1992 inspirou a precoce atleta a se arriscar na natação na mesma época em que uma meningite mudava sua vida.
Os efeitos da doença atingiram sua audição e a deixaram completamente surda. Deficiência que não a impediu de continuar a dar suas braçadas e atingir feitos importantes.
Marsha será a única mulher da equipe de quatro nadadores da pequena ilha de Barbados que disputarão o Pan do Rio.
"Quero melhorar minhas marcas e fazer boa apresentação. Os Jogos serão a competição mais importante que disputo desde a Copa do Mundo", disse à Folha, por e-mail.
O cenário será o mesmo. Em 2004, a atleta disputou a Copa do Mundo no Rio. Seus resultados não foram expressivos, mas fizeram a federação local enxergar que precisava investir naquela adolescente.
Aos 17 anos, Marsha já foi eleita por três vezes a melhor nadadora de Barbados.
Nas competições internacionais, porém, a deficiência pode lhe causar problemas. Ela precisa de auxílio para não perder o estampido da largada. Em casa, um sinal luminoso avisa o momento de saltar na piscina.
"Isso não deve ser um problema durante o Pan. O comitê olímpico de meu país avisou que eu irei [ao Rio] e não posso ouvir. Na Copa do Mundo, eu pulava com a vibração no bloco de saída e deu certo", afirmou.
Marsha não costuma "queimar" a largada, mas já saiu várias vezes atrás das rivais.
Nadadores de elite podem demorar apenas 0s1 para saltar após ouvir o tiro de largada. Alguns são capazes até de zerar esse tempo de reação.
"Nos Jogos da América Central e do Caribe, ela largou atrás uma ou duas vezes porque a luz não era muito visível durante o dia. É uma das desvantagens que ela tem. Os outros respondem ao som. Mas, no Pan, será uma luz branca, bem mais visível", disse Sonia O'Neal, presidente da federação de natação de Barbados.
O Co-Rio informou que já está tomando providências para que a atleta possa competir.
A escolha de Marsha para o Pan gerou protestos em seu país. Única inscrita para os 200 m borboleta no Campeonato Nacional, ela nadou junto com a prova masculina, que tinha apenas três competidores.
Alguns nadadores e técnicos alegaram que ela havia sido beneficiada pelo ritmo mais forte da prova. O comitê olímpico, porém, ratificou sua marca.
Marsha é a única atleta da seleção que ainda treina em seu país. Os outros convocados são Nicholas Nekles, radicado na Escócia, Andrei Cross, na Inglaterra, e Bradley Ally, que faz seus treinos nos EUA.
Apesar de ter sido considerada a melhor nadadora de Barbados nos últimos três anos, a garota tem marcas modestas.
Para conseguir a vaga no Pan, completou os 200 m borboleta em 2min24s62, 19s22 a mais que o recorde mundial da australiana Jessicah Schipper. Se disputasse o Troféu Maria Lenk, o Brasileiro da modalidade, ficaria na 14ª colocação.


Texto Anterior: IRL: Franchitti vence e dispara na liderança
Próximo Texto: [+]saiba mais: Deficientes já disputaram a Olimpíada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.