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Luz dá a largada a teen no Pan
Surda desde os 3 anos, a nadadora Marsha Watson, 17, representará Barbados nos Jogos do Rio
Como não pode ouvir o tiro, única mulher da equipe caribenha responde ao aviso de um sinal luminoso
para se jogar na piscina
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos três anos, Marsha Watson se encantou com uma cena.
Na TV, pessoas se jogavam na
água azul e nadavam vertiginosamente de um lado a outro.
Teve vontade de ser um deles.
A Olimpíada de Barcelona-1992 inspirou a precoce atleta a
se arriscar na natação na mesma época em que uma meningite mudava sua vida.
Os efeitos da doença atingiram sua audição e a deixaram
completamente surda. Deficiência que não a impediu de
continuar a dar suas braçadas e
atingir feitos importantes.
Marsha será a única mulher
da equipe de quatro nadadores
da pequena ilha de Barbados
que disputarão o Pan do Rio.
"Quero melhorar minhas
marcas e fazer boa apresentação. Os Jogos serão a competição mais importante que disputo desde a Copa do Mundo",
disse à Folha, por e-mail.
O cenário será o mesmo. Em
2004, a atleta disputou a Copa
do Mundo no Rio. Seus resultados não foram expressivos,
mas fizeram a federação local
enxergar que precisava investir
naquela adolescente.
Aos 17 anos, Marsha já foi
eleita por três vezes a melhor
nadadora de Barbados.
Nas competições internacionais, porém, a deficiência pode
lhe causar problemas. Ela precisa de auxílio para não perder
o estampido da largada. Em casa, um sinal luminoso avisa o
momento de saltar na piscina.
"Isso não deve ser um problema durante o Pan. O comitê
olímpico de meu país avisou
que eu irei [ao Rio] e não posso
ouvir. Na Copa do Mundo, eu
pulava com a vibração no bloco
de saída e deu certo", afirmou.
Marsha não costuma "queimar" a largada, mas já saiu várias vezes atrás das rivais.
Nadadores de elite podem
demorar apenas 0s1 para saltar
após ouvir o tiro de largada. Alguns são capazes até de zerar
esse tempo de reação.
"Nos Jogos da América Central e do Caribe, ela largou atrás
uma ou duas vezes porque a luz
não era muito visível durante o
dia. É uma das desvantagens
que ela tem. Os outros respondem ao som. Mas, no Pan, será
uma luz branca, bem mais visível", disse Sonia O'Neal, presidente da federação de natação
de Barbados.
O Co-Rio informou que já está tomando providências para
que a atleta possa competir.
A escolha de Marsha para o
Pan gerou protestos em seu
país. Única inscrita para os 200
m borboleta no Campeonato
Nacional, ela nadou junto com
a prova masculina, que tinha
apenas três competidores.
Alguns nadadores e técnicos
alegaram que ela havia sido beneficiada pelo ritmo mais forte
da prova. O comitê olímpico,
porém, ratificou sua marca.
Marsha é a única atleta da seleção que ainda treina em seu
país. Os outros convocados são
Nicholas Nekles, radicado na
Escócia, Andrei Cross, na Inglaterra, e Bradley Ally, que faz
seus treinos nos EUA.
Apesar de ter sido considerada a melhor nadadora de Barbados nos últimos três anos, a
garota tem marcas modestas.
Para conseguir a vaga no
Pan, completou os 200 m borboleta em 2min24s62, 19s22 a
mais que o recorde mundial da
australiana Jessicah Schipper.
Se disputasse o Troféu Maria
Lenk, o Brasileiro da modalidade, ficaria na 14ª colocação.
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