São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2010

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PAUL DOYLE

Brutalidade inglesa


Outras seleções sofreram mais com as agressões do Campeonato Inglês do que o time de Capello


HÁ ALGUMAS semanas, Sepp Blatter viajou de seu casebre de barro na Suíça para a África do Sul no lombo de um burro, orientando-se só pelas estrelas e por homens mal posicionados com bandeirinhas fluorescentes. É o que suponho. Isso porque, é claro, a Copa começou antes de o gol não marcado de Lampard contra a Alemanha e de o gol impedido de Tevez contra o México convencerem o chefão da Fifa a recuar de sua absurda oposição à tecnologia.
Nesta semana, na Inglaterra, ouviram-se exigências em favor dos replays e clamores pela redução drástica do número de estrangeiros na Premier League, para dar mais chances a talentos ingleses e possibilitar o aprimoramento da seleção do país.
Isso faz total sentido -você não se lembra de todas as Copas que a Inglaterra venceu nos anos 70 e 80, quando os clubes ingleses tinham poucos estrangeiros? Talvez haja uma mudança mais útil pela qual os ingleses deveriam brigar. Por exemplo, acabar com a tolerância ao comportamento de Neandertal de atletas da Premier League.
O futebol inglês hoje não é tão brutal como no passado, mas ainda é tão agressivo que a maioria dos técnicos reluta em usar jogadores jovens e habilidosos.
Arsène Wenger, técnico do Arsenal, é uma exceção à regra, mas admitiu no início desta temporada sentir-se "culpado às vezes" ao pedir a jovens para competir em uma liga em que faltas agressivas ainda são comuns.
Wenger disse isso após ver o jovem Aaron Ramsey com a perna quebrada depois de uma falta desajeitada. Foi o terceiro jogador do Arsenal em quatro anos a ter sua perna quebrada, e Wenger acha que o time é vítima por valorizar mais a técnica do que a força. Para ele, a cultura do futebol inglês, que enxerga a força insensata como algo viril, impede os jogadores de ficarem à vontade com a bola.
Capello buscou uma desculpa semelhante após o fracasso da Inglaterra. Disse que seu time estava insensibilizado pela Premier League. Mas isso, por si só, não explica o fracasso. Talvez Capello devesse até se sentir grato: outros países sofreram mais por agressões cometidas no Inglês -Gana perdeu Essien, e o espanhol Fernando Torres não está em plena forma física. E por quantos gols a mais a Alemanha poderia ter vencido os ingleses se Ballack não se tivesse lesionado, jogando pelo Chelsea?

PAUL DOYLE é redator-chefe de futebol do jornal britânico "The Guardian"

Tradução de CLARA ALLAIN


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