São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2007

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sem licença

CVM investiga Palmeiras e Guarani

Clubes captaram dinheiro junto a torcedores sem autorização da entidade que controla o mercado de capitais do país

Órgão alertou sobre ofertas de participação em direitos federativos de jogadores e confirma a tramitação de avaliação interna sigilosa

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Dois clubes de futebol paulistas, Palmeiras e Guarani, estão sob investigação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), ""xerife" do mercado de capitais, por terem captado dinheiro dos torcedores sem autorização do órgão regulador.
O Palmeiras foi questionado pelo lançamento da ""Cesta de Atletas", uma espécie de clube de investimento, em que o torcedor aposta na valorização dos jogadores integrantes da cesta. O Palmeiras esperava arrecadar R$ 9,5 milhões. Foi forçado a suspender o plano em julho, após notificação da CVM.
O Guarani, de Campinas, enfrenta problemas por causa do projeto ""Torcedor Vip". Em dificuldades financeiras, com dívidas de mais R$ 60 milhões, o clube criou um programa em que o torcedor lhe empresta dinheiro, por três anos, e, no período, ganha ingressos para os jogos no Brinco de Ouro.
Em princípio, o Guarani criou um simples plano de empréstimo e não teria de registrá-lo na CVM. Mas, o contrato tem uma cláusula que oferece a possibilidade de o torcedor transformar o empréstimo em aplicação de risco, com remuneração baseada na valorização dos jogadores -tipo de aplicação da alçada do órgão.
A investigação transcorre em sigilo na CVM, que apenas confirma a existência do processo. Há dois meses, a comissão alertou ao mercado de capitais de que detectara situações que podem configurar captação irregular de poupança popular nas ofertas ao público de investimentos em ""direitos federativos"" de atletas profissionais dos clubes alviverdes.
A primeira irregularidade estaria no o fato de eles não terem registrado os planos de captação na CVM. O alerta recomendava analisar tais ofertas com cautela e racionalidade.
A CVM passou a examinar as iniciativas dos clubes de futebol com mais rigor, depois da experiência negativa do Fluminense. O clube carioca criou, em 96, a empresa de investimentos Torcedor S.A., com rendimento atrelado à valorização dos jogadores. Logo depois, o clube enfrentou uma má-fase e foi rebaixado para a terceira divisão.
A Torcedor S.A só acumulou prejuízos, sofreu uma investigação da CVM e acabou por fechar o capital em 2006, por determinação do órgão regulador. A maior parte dos cotistas doou o aplicado ao clube.
O ex-presidente e atual conselheiro do Fluminense David Fischel diz que aplicações baseadas na venda de jogadores tornaram-se investimentos de alto risco, com a Lei Pelé, que garante ao jogador o direito de dispor sobre seu destino ao término do contrato. Para ele, a CVM está certa ao se preocupar com tais captações.
O superintendente de Registros de Valores Mobiliários da CVM, Carlos Alberto Rebello Sobrinho, diz que o torcedor de futebol é movido por impulso e paixão. ""Esses sentimentos não são boas companhias na hora da decisão de investimento. O torcedor pensa apenas se vai ser bom o time. O investidor racional, consciente, que a gente busca ao regular o mercado, não está presente no ambiente do esporte. Por isso, precisamos proteger ainda mais esse investidor", afirma ele.
Aos clubes, que alegam que os planos de captação são de caráter privado, por se destinarem apenas aos respectivos torcedores, a CVM responde que pouca coisa pode ser mais pública do que um plano destinado a torcedor de futebol, cujos times arrebatam multidões.


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