São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2000

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Quebrado sigilo de CBF e Traffic

Alan Marques/Folha Imagem
O deputado Eurico Miranda, vice-presidente do Vasco, discursa durante sessão da CPI da Câmara


 Devassa nas contas bancárias atinge também Ricardo Teixeira e J. Hawilla

 Bancada do futebol tenta evitar votação; Miranda se alinha com opositores

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI da Câmara, que investiga o contrato firmado entre a Nike e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), aprovou ontem a quebra dos sigilos bancário e fiscal da CBF e de seu presidente, Ricardo Teixeira, e da empresa Traffic e seu dirigente, José Hawilla.
A votação do primeiro requerimento, que pedia devassa nas contas de Hawilla, foi nominal (14 votos a favor e 9 contra). As demais foram simbólicas.
A maior parte dos deputados contrários à quebra de sigilo é ligada a clubes ou federações de futebol. A CPI do Futebol, no Senado, já havia aprovado a quebra de sigilo bancário da CBF.
A posição do deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), um dos vice-presidentes do Vasco, foi determinante para a vitória dos que queriam a quebra de sigilo. Sozinhos, os deputados não alinhados com a CBF não conseguiriam aprovar a medida na CPI.
O dirigente vascaíno começou a sessão deliberativa da comissão defendendo todas as quebras de sigilo propostas nos requerimentos votados. Depois, recuou.
Disse que seria melhor esmiuçar apenas a CBF e a Traffic e deixar de fora Teixeira e Hawilla. No final, Miranda optou por apoiar a quebra de todos os sigilos.
Alguns deputados da comissão acreditam que a posição de Miranda é estratégica. Ele estaria tentando deixar a CBF em situação tão desfavorável quanto a sua, para ter poder de barganha, caso venha a correr risco de cassação.
Os parlamentares contrários à devassa alegavam que ela era precipitada. "Quebrar o sigilo é um pré-julgamento, uma violência", disse Silas Câmara (PTB-AM). Segundo ele, não havia acusação de benefícios financeiros ilegais que justificassem a medida. O deputado pediu a retirada do requerimento de quebra de sigilo.
A posição foi adotada por todos os que eram contrários à quebra dos sigilos. Eles alegavam que era cedo para tomar a medida e que o requerimento deveria voltar à votação em outra ocasião.
O presidente da CPI, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), deixou a mesa diretora e juntou-se aos colegas no plenário da comissão. Ele recusou-se a retirar seu pedido da pauta. "Vão ter de derrubar (as devassas) na votação", disse.
Arlindo Chinaglia (PT-SP) argumentou que a CPI deve investigar e não acusar ou defender.
Para ele, a aprovação da medida não significava julgamento antecipado de Teixeira e Hawilla. "Eliminar suspeita é mostrar que quem não deve, não teme", afirmou. "Esse é um instrumento do qual não podemos abrir mão."
Darcísio Perondi (PMDB-RS) contra-atacou, invocando o objeto da CPI, que é o contrato.
(VALÉRIA DE OLIVEIRA)


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